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4 maio 2015
Fotografia de  Paulo Neto Texto de Carlos Enes

Marcelo Rebelo de Sousa: «Sou viciado em farmácias»

​Comentador sublinha «avanço enorme»​ que foi a criação do Serviço Nacional de Saúde.

Revista Farmácia Portuguesa  - Qual o primeiro livro que recomendaria a um profissional de saúde? 
​Marcelo Rebelo de Sousa  - A Bíblia. Está lá o essencial de uma ética para a Saúde.  
RFP - Qual a importância da fé no seu dia-a-dia? 
MRS - É o alfa e o ómega da minha vida. Quer quando acerto, quer quando falho. E falho mais do que acerto.
 
RFP - O que o leva a propagá-la? 
MRS - A própria natureza dessa Fé - é tudo menos solitária. Só nos salvamos com os outros e pelos outros.
 
RFP - A televisão: o que vê? Alguma vez sente que perde o seu tempo?
 MRS - Tudo o que posso. Ou quase tudo. Até para poder comentar o que se passa. Muitas vezes não gosto, mas vejo, pelo menos um pouco.
 
RFP - Qual a dieta televisiva que recomendaria a quem tem crianças para educar?
​MRS - Mais tempo com elas e menos tempo com elas e a televisão pelo meio.
 
RFP - A família está a recuperar importância devido à crise? 
MRS - Sim e não. Sim, porque a crise juntou quem vivia distante. Não, porque a provação foi muita e a oportunidade de viver mais em família nem sempre foi aproveitada.
 
RFP - Como se inverte a tendência para o “abandono” dos velhos? 
MRS - Mudando o discurso da sua marginalização. Formando os mais pequenos para a vivência intergeracional.
 
RFP - O SNS é mesmo a melhor realização da Democracia, ou um mito bem contado?​
MRS - É mesmo um avanço enorme para quem saiba o que era antes. Dito isto, também serviu para alimentar discursos de ocasião. Sobretudo, à medida que se foi descuidando esse SNS, por omissão. 
 
RFP - Como explica que, de um dia para o outro, um ministro possa passar de bestial a culpado de tudo, como os treinadores de futebol? 
MRS - A popularidade é a coisa mais volátil do mundo. Em especial se se baseia na aparência ou na forma.
 
RFP - Os farmacêuticos eram privilegiados? 
MRS - Alguns eram. Não todos. Mas, no geral, era uma actividade com status social, desafogo económico e peso local.
 
RFP - Acredita que estão a passar um mau bocado?​
MRS - A crise bateu-lhes forte e feio. O contexto mudou e penso que, em larga medida, o tempo já não volta para trás.


 
RFP - Acha que as farmácias vão oferecer cada vez mais serviços de saúde, como a troca de seringas e o controlo da diabetes, ou acabar a vender refeições rápidas, como nos EUA? 
MRS - Depende da imaginação dos farmacêuticos. Vão ter de ir reconstruindo a sua posição numa sociedade diferente. 
  
RFP - Faz diferença para si, que é um cidadão particularmente informado, ter um farmacêutico a dispensar-lhe os medicamentos? 
MRS - Eu sou um caso pouco típico, porque, como hipocondríaco militante, tenho a tentação recorrente de me automedicar.
 
RFP - Que tipo de relação tem com o seu farmacêutico?
MRS - Não tenho um farmacêutico. Tenho um leque amplo de farmácias onde vou, com gosto e frequência, o que me permite comparar e escolher melhor em cada momento. Novamente, não sou um utente comum.  
 
RFP - Esta geração vai sofrer mais para ser feliz em Portugal?
MRS - Espero que a saída da crise abrevie o compasso de espera de muitos jovens e dê alento perdido a muitos menos jovens.
 
RFP - Emigrar é uma solução que deve ser encarada sem complexos?
MRS - Cada caso é um caso. Nem pregar a emigração como panaceia é bom - salvo para meia dúzia de tecnocratas privilegiados e com vocações universais-, nem condenar a decisão de quem pense ser a solução para aquele momento e para o melhor ou menos mau projecto de vida no dito cujo momento.
RFP - Quem pode deve fazer complementos de reforma?
MRS - Dever, deve o maior número. Poder, podem muito poucos. As classes médias já puderam mais do que podem hoje.
 
RFP - É seguro fazer aplicações financeiras aconselhadas pelos gestores de conta dos bancos?
MRS - Há de tudo. Mas, um depositante ou aplicador, mesmo pequeno, e sobretudo se pequeno, tem de ser mais atento, mais informado e mais recalcitrante.
 
RFP - Arrepende-se muito, ou prefere pensar na próxima aventura?
MRS - Um cristão arrepende-se com frequência. Mas sou sempre, por natureza, optimista e virado para o futuro. Não fico agarrado a uma queda, levanto-me depressa e continuo o caminho. Sempre com alegria de viver.
 
RFP - Quem vão ser os candidatos a Presidente da República?
MRS - Só Deus sabe... se souber... O tempo que falta é uma eternidade em plena saída da crise, com legislativas pelo meio e uma grande indefinição entre áreas políticas e dentro delas. ​​