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4 fevereiro 2016
Texto de Carlos Enes Texto de Carlos Enes Fotografia de Joca Fotografia de Joca

Viana é amor

​​​​​​O farmacêutico Paulo Arriscado desafia os leitores para a maior romaria de Portugal. Mas o convite vale para todo o ano. Arrisca-se a ser surpreendido.​

​Foi entre um homem do Porto e uma mulher de Lisboa o casamento criativo que imortalizou Viana do Castelo no imaginário português. «Se o meu sangue não me engana / como engana a fantasia / havemos de ir a Viana / ó meu amor de algum dia». Quando Amália os cantou, estes versos de Pedro Homem de Mello começaram a viver para sempre.

Viana é a cidade romântica de Portugal. Isso é patente nos lenços e camisas regionais, mas também nas toalhas, nas velas, loiças e, claro, na ourivesaria local. Viana exibe mais corações do que galos de Barcelos tem Portugal inteiro. A cidade era um destino de lua-de-mel do turismo nacional, antes da popularização dos aviões para destinos tropicais. 

Ainda hoje casais de Braga, Porto e de mais longe decidem trocar alianças no Templo de Santa Luzia. Nos anos oitenta, o etnógrafo Amadeu Costa inventou a frase exacta, mas mesmo exacta, que faltava à glorificação romântica da cidade: «Viana é Amor». Foi por amor e casamento que José Arriscado, minhoto abastado e com gosto pela vida, arrancou a farmacêutica Ana Rodrigues Pereira às fragas  transmontanas. Paulo Arriscado, o nosso guia, seguiu a profissão da mãe. É um homem com mundo, mas bem agarrado à terra. «Nunca me deu para sair daqui. Viana é o meu refúgio», explica ele, com a força de um facto natural.
 


Os vianenses cultivam um orgulho inflamado na “sua” terra. «Sou do Minho, sou do Minho / de Viana natural / Quem não conhece Viana, não conhece Portugal / Não conhece Portugal, ó lai ó la ri ló lé la», cantam em coro, nas festas e romarias. São mestres em propaganda e publicidade. Vão dizer-lhe que a Romaria D’Agonia é «a maior de Portugal». Não discuta – é a forma calorosa de o convidarem, eles adoram receber. E vale a pena entrar na festa, pelo menos uma vez na vida. Só não se recomenda a quem tem fobia a multidões, foguetes e a centenas de bombos a soar em simultâneo. A revista de gigantones e zés-pereiras faz tremer a Praça da República, um dos postais de Portugal.

A Romaria acontece no fim-de-semana de 20 Agosto, mas Paulo Arriscado recomenda que reserve já a estadia, porque as camas se esgotam. O nosso guia deixa várias sugestões tentadoras. O Hotel Flôr de Sal, na Praia Norte, para sentir-se a acordar no mar alto. Muito confortável, com vista para o rio, o moderno Axis. A arquitectura faz lembrar um lego futurista. 

Também poderá dormir no cenário mágico dos filmes Willy Wonca, ou passar uma noite romântica com o seu amor, espumante, uma fonte de chocolate e morangos. Isso é no Hotel do Chocolate, que mantém aberto ao público um museu. O visitante viaja pela História da Humanidade e fabrica a sua própria tablete de chocolate. Para espíritos mais requintados, duas boas opções: A Casa Manuel Espregueira e Oliveira, com apenas seis quartos, é central, linda de morrer e fará o leitor e a leitora sentirem-se no interior de um romance clássico. 



Finalmente, a Pousada de Santa Luzia. Dos seus terraços e jardins, a cidade cabe inteira aos olhos de quem sabe ver. Quando faz sol, Viana brilha em luz tão intensa que se confunde com o céu e o rio. Mas isso é só o lado visível. A alma colectiva cintila ainda mais. As raparigas de Viana dão o corpo ao mito, com fama e proveito. «Têm belezas perigosas, olhos verdes impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos», escreveu Miguel Esteves Cardoso em 1990, na revista “Kapa”. O exibicionismo, quase insolente, a elas fica-lhes bem. E atrai multidões, como é o caso da Mordomia da Romaria D’Agonia, um desfile reservado a mulheres em trajes tradicionais. A maioria traz ao peito ouro que dava para várias montras de ourivesaria. Nos últimos 20 anos, a cidade cedeu finalmente ao pedido de namoro do rio. Muros e grades desapareceram da doca. Os barcos de pesca “estacionam” agora no passeio público.

Passear na Ribeira, o bairro dos pescadores, é um exercício indispensável a quem quer conhecer o espírito da cidade. Têm aberto por lá muitas tabernas e restaurantes. Outros ganharam vida nova, como o Primavera, mais conhecido como a “Tasca do Tone Bento”. Já não são só os homens do mar, mas vianenses de todos os ofícios a reunirem-se ali. Petiscam uma salada de polvo da costa, ovas, mariscos e peixe fresco. Outros restaurantes imperdíveis para os apreciadores de peixe são a Taberna do Valentim e a Tasca da Linda. A preferência de Paulo Arriscado vai para o Porta 93, que estaria cheio todos os dias se fosse no Chiado, ou em Paris. Combina a cozinha de autor com uma variedade invulgar de ingredientes, bem como pratos de todo o mundo com receitas tradicionais perdidas no tempo.


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