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15 outubro 2016
Texto de Maria Jorge Costa Texto de Maria Jorge Costa Fotografia de Céu Guarda Fotografia de Céu Guarda

Um leão no mato

​​​​​​​​​​​​Em 1980 Francisco George aterrou em África numa missão pela OMS. A família juntou-se e lá passaram 12 anos. Nunca foi opção estarem afastados. As contrariedades​ resolviam-se sem telefone fixo nem telemóvel.
​Revista Saúda - África... é uma paixão...
FG - Nunca tinha ido a África. Fui para Brazzaville em 1980, como especialista em Saúde Pública ao serviço da OMS. Foi um impulso agradável muito bom. 

RS - Muitos sustos, muitas aventuras...
FG - Mas foi preciso! 

RS - Compreende o que muita gente diz sobre o cheiro de África?
FG - Sim, sim.  Acabei por trabalhar em quase todos os países, e consigo distinguir à distância pelas feições e pelo recorte, o país de origem e, muitas vezes, a etnia das pessoas. 
I​as, em Londres, vi uma senhora com os filhos e pensei: esta senhora, de certeza, que é do Zimbábue. E era. Tenho esta facilidade de identificar os povos pelas etnias a que pertencem. A maneira como falam. Foram 10 anos a trabalhar junto das pessoas. Nunca me preocupei muito em estar em gabinetes. 
Aí sim, trabalhava muito... muitos dias, semanas, meses no mato, primeiro na luta contra o tétano, também na luta contra uma doença que provoca cegueira a longo prazo. Também trabalhei muito em sida e, em Outubro de 1980, estávamos no início da emergência do problema. ​
RS - Esteve esse tempo na OMS, não sentiu mais o apelo de fazer... Quis vir para Portugal?
FG - Não, tive que vir porque era uma questão de opção! Tinha as licenças, primeiro de dois anos e depois uma de longa duração de 10 anos. Terminados os 12 anos, ou regressava ou continuava. Foi uma decisão muito difícil. Quis regressar e a minha mulher queria ficar. 

RS - Foram sempre todos? Não havia receio do perigo?
FG - Fomos sempre todos. Para nós, estarmos afastados nunca foi uma opção. A família está junta, seja em que cenário for. E correu sempre bem, com alguns percalços, que hoje parecem anedota. Costumo contar uma história, que não sei se já escrevi, de um leão. 
Ia no carro com os meus filhos e tivemos um furo, mas segundos antes tínhamos visto um leão a deambular no mato. Íamos a caminho do Senegal. Foi preciso mudar o pneu... eram seis da tarde, começava a escurecer e os meus filhos choravam com medo do que podia acontecer se saísse do carro. Peguei no mais velho e estabeleci com ele uma operação rápida. Ele com paus, eu com o macaco a reparar o furo.... a verdade é que conseguimos mudar o pneu sem o leão voltar, mas com a minha mulher e as minhas filhas a gritarem dentro do carro «Ó pai não saias, ó pai não saias...» mas enfim, foi uma cena fantástica. Íamos só nós, não havia telefones, nem telemóveis... Íamos no mato, em pleno Senegal Oriental. ​

RS - Estiveram sempre juntos a viver em África?
FG - A minha filha mais nova esteve sempre comigo. Foi quando nasceu, portanto, regressou aos 12 anos. 

RS - Os outros tiveram de regressar para prosseguir os estudos?
FG - ​Exactamente. Os franceses têm muito bem organizado o ensino à distância. Os meus filhos fizeram a escola em língua francesa - a instrução primária e secundária. Depois, no Zimbábue, língua inglesa. Nesse plano, foi muito bom.

RFP - E viram muito mundo.
FG - Sim, muito diferente.​
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