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14 agosto 2016
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Alexandre Almeida Fotografia de Alexandre Almeida

Troika de ouro

​​​​​​​​​​​Joana​​, Jessica e Susana lideram o ranking mundial de ginástica acrobática. Treinam mais de quatro horas por dia no Acro Clube da Maia e conhecem o segredo dos campeões.​​​

Dream, Believe, Succeed. Escrito a marcador, a lembrar que não basta sonhar e acreditar para vencer, lê-se work, work, work. Trabalhar – e muito – faz parte da equação do sucesso. Foi Lourenço França, treinador das três ginastas acrobáticas que trouxeram da China para casa o sexto lugar, quem acrescentou a parte do trabalho ao quadro que ilustra a história das três amigas.

Não que Joana Patrocínio, de 19 anos, Jessica Correia, de 17, e Susana Pinto, também de 19, o esqueçam por algum momento. Treinam entre quatro a quatro horas e meia por dia. Mais do que um jogador de futebol profissional. São campeãs nacionais. E as três ficarão para a história: ocupam o primeiro lugar do ranking mundial da sua modalidade, feito jamais atingido por ginastas portugueses.

Passa pouco das 16h de uma quinta-feira. No Acro Clube da Maia há poucos ginastas a trabalhar a esta hora. Mas as três amigas já lá estão. Grande parte das suas vidas é passada aqui, neste enorme ginásio. Integram a classe de elite dos ginastas acrobatas da Maia.

E crescem juntas há anos. «Estamos sempre juntas», dizem. Essencial numa equipa vencedora – essencial na vida. Afinal, como sublinhará Joana mais tarde, com uma segurança surpreendente, é isso que vão levar daqui, que levam todos os dias em que regressam a casa: «Não são as vitórias, não são as medalhas. É a amizade. É isso que conta». A seu lado, Jessica e Susana concordam, acenando com a cabeça.

Por isso, esta não é apenas uma história de medalhas, de sucesso e de um imenso orgulho para Portugal. É a história da amizade forte de três raparigas, que aprenderam a ser maiores que elas próprias. Mas não foi sempre assim. Tiveram de crescer. Lá iremos.

Durante a conversa, com música ritmada em fundo, há sempre a perna de uma em cima da de outra. Um braço que envolve. Cumplicidade no olhar. Leveza, aquela alegria inabalável de quem ama o que faz.

As três começaram a treinar juntas no início da época de 2014/2015. «Eu e a Susana fazíamos trio com outra rapariga, de outro escalão mais baixo, éramos juniores», começa Joana. «Mas a Jessica já tinha sido sénior. E como as bases dela saíram da ginástica, eu e a ‘Su’ começámos a fazer com a ‘Jess’».

Tornaram-se um trio sob o comando de Lourenço. Aprenderam a lidar com os nervos à flor da pele antes das competições. Jessica é a mais reservada das três. Susana assume: «Eu demonstro imenso». Para Joana, a ansiedade começa no dia anterior: «Estou sempre a imaginar mil e uma maneiras de cair», ri. E há «aquelas superstições nossas». Como «na semana anterior, os treinos correrem bem», acrescenta Susana. «Às vezes, exagero um bocadinho no nervosismo», insiste. As companheiras ajudam, acalmam-na. Conhecem-na. Jessica já participou seis vezes em competições internacionais. Joana e Susana, quatro.

Actualmente, só não estão «sempre, sempre juntas», porque Joana e Susana entraram para a universidade. Jessica continua no liceu de sempre, a Secundária Levante da Maia. Susana cursa agora Medicina Dentária, Joana estuda Comunicação Social. Jessica quer estudar Medicina Veterinária. Mas a ginástica acrobática vai acompanhá-las pela vida fora. Susana e Joana não afastam a possibilidade de se tornarem treinadoras. Jessica gostava de experimentar o Cirque du Soleil.

A diferença de um centésimo

Enquanto o futuro não chega, sorriem quando alguém lhes diz que são as melhores do mundo. Como chegaram lá? «Há um circuito fora do campeonato do mundo, que são as taças do mundo. Foram essas provas que nos puseram no primeiro lugar do ranking. A primeira não correu muito bem mas, na segunda, ficámos em segundo lugar. A pontuação somada deu-nos o primeiro lugar», explica Susana. Não escondem a surpresa: «Temos países tão bons a competir connosco, como Inglaterra, Bielorússia…» 

Elas fizeram a sua parte. Treinam bastante: 24, 25 horas por semana; têm cuidado com o corpo – com a alimentação, as horas dormidas. Em alta competição nada pode ser deixado ao acaso.

O que, realmente, as distingue? São «bem equilibradas entre si em termos de tamanho», como assinala o treinador, mas há mais. É Susana quem explica: «Acho que aprendemos a trabalhar em trio. No primeiro ano não sabíamos, cada uma puxava para o seu lado. Não tínhamos uma ligação tão grande como temos agora. E sentimos uma grande diferença». Talvez a grande diferença seja esta: «Começámos a ajudar-nos. No início apenas nos criticávamos».

Para aprender, houve a mão do treinador, Lourenço França. «Há uma condição essencial para este desporto: ter confiança. Um volante tem de confiar cegamente nas suas bases. Quando têm menos experiência é difícil. No caso, a Jessica tinha mais experiência. Na primeira taça do mundo foi desastroso. Apenas um ano depois, ficaram a um centésimo da medalha de ouro».

A passagem pelo concurso "Got Talent" em 2015, que venceram, também mudou a forma como se relacionavam. «Aprendemos a trabalhar». E os resultados estão à vista: «Na China, sair do esquema, perceber que tínhamos feito o melhor que conseguíamos e ter um oito em execução, foi fantástico. Mas o melhor foi o abraço no final», diz Joana.

Espera-se que essa sensação e esse abraço se repitam nos Jogos Mundiais, os "Jogos Olímpicos" para a modalidade, em Julho de 2017. Claro que, como repetiria Lourenço, depois de «trabalhar, trabalhar,  trabalhar».

Há obstáculos a ultrapassar. É que as três ginastas granjearam o sexto lugar e garantiram um lugar nos Jogos Mundiais, mas para Portugal. Ainda têm de competir com outros trios portugueses e ficar em primeiro lugar do ranking nacional para ir aos Jogos. Agora, conhecendo intimamente a força e as fragilidades umas das outras, será mais fácil: sabem realmente o que é estarem unidas. E estão preparadas para vencer. 


Jessica

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‘Jess’, de 17 anos, é a volante do trio. Entrou no mundo da ginástica acrobática aos sete anos. «A filha de uma amiga da minha mãe fazia ginástica aqui e disse que eu provavelmente teria jeito, para vir experimentar». Lembra-se de olhar para outros ginastas e pensar: «Também quero fazer aquilo!». «Via os seniores e os juniores e queria ser como eles». Começou a treinar diariamente e a progredir. Não demorou muito a passar para a classe de elite, no Verão de 2009.

Susana

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Fazia natação. «Havia lá uma rapariga que estava neste clube. E eu comentava que gostava muito de ginástica e que achava muito giro o que ela fazia. Ela ia-me ensinando algumas coisas… e convidou-me. Lembro-me que fui ver uma prova, o Maia Internacional Acro Cup. Gostei imenso e acabei por juntar-me ao Acro Clube em finais de 2009». Tinha 12 anos – uma excepção, normalmente o início é mais cedo. Esteve três anos como iniciada, mas no último já foi ao Campeonato da Europa.

Joana

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​Joana, uma das bases, tinha uma amiga mais velha que «fazia ginástica e entrava em competições». «Perguntou se eu queria experimentar». Experimentou num outro clube, aos 12 anos. «Mas era diferente, eles só tinham iniciados». Nessa altura, sorri, competia com Susana. «Mas lá não progredia». Entrou numa turma de formação do Acro Clube e formou par de bases com Susana, tinham 14 anos. Olhava para as classes de competição com inveja: «Uou, aqueles vão aos campeonatos do mundo, à Ucrânia, à Polónia, ou a Orlando, como a Jess foi em 2012».​

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