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15 outubro 2016
Texto de Maria Jorge Costa Texto de Maria Jorge Costa Fotografia de Céu Guarda e Pedro Loureiro Fotografia de Céu Guarda e Pedro Loureiro

«Todos descendemos de Antero»

​​​​​​Revê-se em Antero de Quental, o seu escritor favorito. Apesar do pouco tempo livre, não perde um filme e o encontro semanal com os irmãos Sampaio (Jorge e Daniel). 

RS - Tem um blogue – Dossier de Lutas. Quando começou a escrever?
FG - ​Em 2011.

RS - Numa das entradas fala da Farmácia Castro Fonseca para onde fugia quando a sua mãe ia às compras ...
FG - Porque vivia exactamente no prédio da Farmácia Castro Fonseca. Castro Fonseca parecia um sábio, olhava para ele e via um sábio... Eu ficava horas a ver a manipulação com os tubos de ensaio de várias dimensões, a preparação das pastas, das pomadas, dos cremes... era um fascínio. 

RS - Ele deixava-o ficar ali?
FG - Claro. Eu era vizinho dele, conhecíamo-nos muito bem e, repare, Campo de Ourique era uma grande família. 



RS - Tem mesmo tempos livres?
FG - Tenho, sim. Verdadeiramente livres não porque estou a sempre a pensar nas questões que aqui me prendem, mas agora tenho procurado não trabalhar ao fim de semana. Bom, pelo menos um dia. No outro estou aqui (na Direcção-Geral da​ Saúde), como aconteceu no último domingo. Costumo brincar dizendo que passeio no parque natural da Alameda. 

RS - Foi sempre assim?
FG - Julgo que sim! 

RS - E a família adaptava-se bem?
FG - A família adaptava-se.

RS - Quando tem tempo livre o que gosta de fazer?
FG - Cinema e leitura. Todos os fins de semana vou ao cinema. Gosto de bom cinema.



RS - Qual é a sua sala de cinema?
FG - Agora, por razões de proximidade, é o Corte Inglês. As salas são boas, algumas são mesmo muito boas. O som é muito bom. Este fim de semana vi um filme notável, do Clint Eastwood, sobre aquela magnífica amaragem do avião no rio Hudson. É um filme absolutamente magnífico, uma obra-prima. Mais uma de Clint Eastwood.
Ah! Também aconselhei os meus amigos a não verem o Ben-Hur. Este é o terceiro Ben-Hur. Quando fez 50 anos, houve uma edição que oferecia o primeiro. Depois há o Ben-Hur de Charlton Heston que, no geral, é uma má história, mas que tem aqueles 20 minutos das corridas de cavalo. Lembro-me que havia um crítico, julgo que era Lauro António, que aconselhava as pessoas a entrarem na hora do início das corridas e saírem no fim. É, de facto, o único momento interessante porque fazer aquela cena há 50 anos é épico.
Este filme é mau, muito mau, pior do que há 50 anos, em todos os planos, incluindo os efeitos especiais e a história foi alterada no mau sentido - a não ver, a evitar.

RS - E livros?
FG - Há um escritor que me interessa particularmente: Antero de Quental. Gosto daquela época, dos republicanos em geral, aquele pós-romantismo de Coimbra, metade século XIX, a coincidir com as conferências nessa época... tudo o que diz respeito aqueles grandes intelectuais. Foi uma geração absolutamente ímpar de grande dimensão, que acompanha os primórdios da República até à sua emergência e, sobretudo, às questões do ultimato, todos eles unidos nessa questão, mas com destaque para Antero. 
No outro dia, li em poema Manuel Alegre, que dizia que de alguma maneira todos nós descendemos de Antero. Eu acho que ele tem razão. Sobretudo aqueles com pensamento mais colocado nos interesses colectivos. Revêm-se sempre em Antero. Agora há uma edição muito boa das obras dele editada pela Universidade dos Açores. 
Outro autor que redescobri mais recentemente foi Fernando Pessoa. A correspondência dele... Aquela carta que escreve a explicar que era a mãe dos heterónimos, não é? É absolutamente ímpar. 

RS - É um bom garfo?
FG - Não nesse sentido! Naturalmente, tenho as minhas preferências, mas frequento só três ou quatro restaurantes. Não sei cozinhar, é um grande handicap, que me distingue do meu filho. Não sei, não aprendi... O único prato que cozinho é fondue para os amigos. Compro a carne de lombo, com óleo de girassol ou, melhor ainda, de amendoim -  que é como deve ser! 



RS - O que é que os amigos dizem de si?
FG - Aquilo que eu digo deles... que é bom ter amigos, alguns amigos. Nem mais nem menos do que outras pessoas.

RS - Tem amigos do tempo do colégio?
FG - Tenho! Tenho amigos desde sempre. Deve estar a referir-se... andei na escola com Marcelo Rebelo de Sousa e com Eduardo Barroso, mantenho amizade mais de perto com Eduardo Barroso, como é natural. E tenho amigos de sempre, de Campo de Ourique e da nossa praia - Praia Grande, Azenhas do Mar. 

RS - Os filhos e netos são amigos...
FG - Sim, sim. Integram esse clube de amigos, que são os dois irmãos Sampaio - o Jorge e o Daniel (respectivamente, ex-Presidente da República e psiquiatra).
Tenho amigos da faculdade, a Natália, a Judite, mas não são mais nem menos. Cultivamos a convivência. Todos os sábados estamos juntos. Tomamos o café juntos e discutimos a semana que acabou em conjunto, eu, o Daniel e o Jorge. 

RS - Nas Azenhas?
FG - Não. Neste caso, moramos também juntos uns dos outros em Lisboa. Moramos juntos cá e moramos juntos na praia.​
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