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28 março 2017
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Anabela Andrade Fotografia de Anabela Andrade

Serviço de ir ver o mar

​​​​​Nesta farmácia os dias fazem-se de sorrisos e conversas cúmplices com os utentes.

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Na Farmácia Rocha Barros, em Eiriz, o atendimento é próximo e, além da saúde, contém uma boa dose de amizade e muito ternura. Recebe-se exames, levanta-se vales de reforma. Dá-se uma bolacha a uma das crianças que acompanham os pais. Estes gestos de carinho muitas vezes extrapolam o espaço da farmácia. Às vezes levam utentes e farmacêuticos para bem longe, tão longe como o mar, que a saúde também se faz de sonhos cumpridos. 



Nesta terra de serrania, perto de Baião, havia quem nunca tivesse visto o oceano. Era o caso de muitos dos meninos da turma de educação especial do Centro Escolar de Eiriz, frequentado pelas crianças das freguesias próximas. O mar estava demasiado longe para que os pais conseguissem levá-los. Apenas lhe conheciam a cor, emprestada aos lápis, e tinham ouvido falar das ondas e do cheiro a sal. 

Num dia especial, perto do Natal, o sonho foi concretizado pela farmácia. «Organizámos um concurso - “A Montra é Tua” – onde, durante dois meses, deixámos a montra entregue às crianças. O tema era o Sol. As turmas do polo escolar inscreveram-se em grupos de seis. Faziam as montras com os materiais que traziam e que entendessem. Seleccionámos as três melhores e demos um prémio especial», explica a directora-técnica da farmácia, Maria Emília Correia. «Foi inesquecível, uma experiência única», acrescenta a filha, Maria Miguel, que também trabalha na farmácia. 

O prémio especial de que falam foi uma ida ao Porto. Levaram 22 crianças ao Museu da Farmácia e ao Pavilhão da Água. «Pelo meio, fomos ver o mar. Havia meninos da turma das necessidades educativas especiais – neste caso abrimos uma excepção e participou a turma toda que nunca tinham visto o mar. Foi indescritível poder proporcionar este momento. E a fotografia com o Pai Natal também foi “cinco estrelas”. Eles ficaram mesmo muito felizes», entusiasma-se Maria Miguel. 

«Foi muito recompensador ver os sorrisos nos rostos deles, o entusiasmo com que depois contaram aos pais a experiência, o que viram e sentiram. Valeu mesmo a pena», sorri, por seu lado, Maria Emília. 



Foi isso mesmo que fez António, portador de trissomia 21, quando voltou da viagem. «Entusiasmou-se muito com os utensílios de Farmácia que viu, com o que aprendeu. Adorou, os olhinhos dele brilhavam», conta a irmã mais velha, Marília. 

António também gostou muito de ver o mar. «O António é um menino muito especial, que valoriza muito os presentes que lhe dão e tudo o que vê», sorri. «Adorou aquela viagem, falou nisso durante muito tempo». 

As actividades com a escola de Eiriz, frequentada por muitas das crianças da freguesia, são constantes. No Dia da Mãe, por exemplo, as farmacêuticas da Rocha Barros foram passar uma tarde à escola para ensinar os meninos a fazer um creme para oferecer às mães. «Levámos os ingredientes todos. Eles adoram aprender como se faz», entusiasma-se a responsável. 

Por isso, sempre que há um dia especial, os profissionais da farmácia promovem uma actividade. Fizeram-no no Dia dos Namorados. «Trouxemos os nossos companheiros e misturámo-nos todos. Quem adivinhasse os casais certos ganhava um presente». 

Os passatempos são uma das formas de se aproximarem dos utentes e envolverem a comunidade na vida da farmácia. E de estreitar laços entre as pessoas. Até já houve uma emissão de rádio em directo da farmácia, no seu 30.º aniversário. 

As actividades, conta Maria Miguel, «são idealizadas em equipa». Os utentes têm conhecimento do que vai acontecendo nas visitas à farmácia, durante o atendimento, através da rádio local, mas também pelas redes sociais. 

A verdade é que são estas actividades que unem as pessoas e dão vida à freguesia. Marília Soares já teve direito a uma massagem relaxante, no Dia da Mãe. «Adorei!». No Dia dos Namorados, por exemplo, recebeu de oferta uma maquilhagem especial. «Acho muito importantes as actividades promovidas pela farmácia, porque estamos num meio um bocadinho fechado e elas fazem coisas muito lindas», diz. «Aproxima-nos, dá outro encanto a este sítio». 



Quando vão à escola, os nove farmacêuticos aproveitam para falar de temas de saúde, como higiene oral ou os cuidados a ter com o Sol. As visitas são retribuídas pelas crianças, que passam na farmácia para comer uma bolacha ou para dar uma voltinha no elevador, o único por estas bandas. 

Instalada no meio da serra, a Rocha Barros é uma farmácia rural onde todos se conhecem. E onde também se pede e dá ajuda para todo o tipo de assuntos do dia-a-dia. O senhor Ramiro Figueiredo, que veio com a esposa buscar medicamentos, levanta aqui os seus exames. «As pessoas idosas não têm veículo próprio, por isso pedimos para entregar os exames médicos aqui», conta Maria Emília. Também levantam os seus vales de reforma. 

 


​«Tentamos sempre responder às necessidades dos nossos utentes», remata Maria Emília. Um bom exemplo é o novo multibanco de que Eiriz irá dispor em breve. «Não havia aqui nenhum. Negociámos e pedimos um para as novas instalações da farmácia». Mais espaçoso, o lugar será inaugurado em breve. Com actividades, ainda em segredo, para celebrar o acontecimento.
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