«Aqui, neste lugar, punhamos uma mesa com cavaletes e escrevíamos juntos o livro “Sobre o Céu e a Terra”». Quem o conta é o rabino de Buenos Aires, Abraham Skorka, amigo de Jorge Mario Bergoglio desde a década de 90, que nos recebeu na sua sinagoga, na capital da Argentina. O livro foi publicado em 2010 e, um ano mais tarde, gravaram no mesmo lugar as conversas, em estilo informal, mediados por um jornalista, para a televisão do Acerbispado de Buenos Aires.
«Ele é como um irmão», confessa o líder judaico. «Falamos abertamente, não há protocolo», explica. Prova disso mesmo é que, «quando trocamos e-mails, ele começou por escrever “querido amigo” e, num dado momento, passou a escrever “querido irmão” e eu acompanhei. E agora é sempre assim que nos tratamos. Somos irmãos no espírito, totalmente», remata o rabino Skorka, nome escolhido por Jorge Mario Bergoglio para escrever o prólogo da sua biografia autorizada, intitulada “O Jesuíta”, que viria a dar origem a uma minissérie televisiva sobre a vida do Papa.
A amizade começou com uma piada de futebol. Abraham Skorka já visitou Francisco em Roma e também já viajaram juntos a Jerusalém.
«Pela primeira vez numa delegação papal, numa viagem fora de Roma, foi convidado um rabino e um líder muçulmano. Foi quando fomos à Terra Santa. Essa viagem tem uma fotografia que é um ícone: quando nos abraçámos, os três, diante do muro que foi, em tempos, o templo de Jerusalém», lembra, emocionado.
Uma imagem que representa a principal mensagem da sua amizade: que o «carinho, o respeito e a inclusão» superam todas as diferenças religiosas.