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28 outubro 2015
Texto de Paulo Cleto Duarte

O compromisso das farmácias

​​​​​​​​​Não vale a pena carpir mágoas pela fragilidade do Estado social e impedir os projectos que, na realidade, o defendem e desenvolvem.​​

O último acto eleitoral gerou dúvidas em vez de certezas. O sistema político parece bloqueado, incapaz de gerar soluções governativas estáveis e coerentes. Sem um rumo certo à vista, os portugueses olham uns para os outros, apreensivos, à espera do que vai acontecer.

Num quadro como este, ganham nova força valores como o compromisso, o diálogo e a flexibilidade negocial. O nosso desenvolvimento económico depende de uma lógica de uns com os outros – e não de uns contra os outros.

Portugal reclama compromisso, diálogo e flexibilidade entre as forças políticas – e entre estas e os parceiros sociais. O país está cansado de soluções impostas, maniqueístas e inconsequentes. A sociedade portuguesa, martirizada por anos de crise e austeridade, merece uma oportunidade.

As farmácias têm demonstrado a sua disponibilidade para o diálogo e para o compromisso. Apesar da crise profunda e da austeridade desmedida de que foram alvo, mantiveram sempre, sem interrupções, uma atitude de compromisso com os governos da nação.

A rede de farmácias saúda, com esperança, as afirmações em favor do diálogo e do compromisso vindas de diferentes quadrantes da sociedade portuguesa. Com esse espírito, daremos mais uma vez a nossa colaboração ao governo do país.

Mas este espírito tem de ser correspondido. Os partidos e os governos não se podem lembrar de Santa Bárbara apenas quando troveja. Quem declara que a rede de farmácias é indispensável ao sistema de saúde deve ser consequente nos actos. Quem celebra com as farmácias um contrato social deve respeitá-lo.

O Estado celebrou connosco acordos que não está a cumprir. Ora, assim não podemos continuar. Queremos conhecer os princípios, as regras e os objectivos de quem governa. As farmácias são o único sector da saúde que é remunerado sem critério. Foram muitas vezes vítimas de decisões casuísticas dos governantes. Esta vulnerabilidade é injusta e insuportável.

É urgente o compromisso dos governantes quanto aos serviços que as farmácias devem disponibilizar aos portugueses. Existe evidência internacional de que podem oferecer grandes poupanças orçamentais ao Estado e anos de vida saudável aos cidadãos. Mas isso depende da implementação séria de programas de prevenção da doença e promoção da saúde. Portugal é caso único no mundo desenvolvido de desperdício da rede de serviços de saúde mais próxima da população.

Temos de perder o hábito dos acordos de papel. Não vale a pena carpir mágoas pela fragilidade do Estado social e impedir os projectos que, na realidade, o defendem e desenvolvem.

Presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF)​​



Texto publicado originalmente no Público de 27-10-2015