Encontrei-me, há dias, com uma amiga de longa data, a Maria da Conceição, enquanto andávamos às compras. Quando nos despedimos, disse-me que estava cansada da “tosse de cão” que não havia meio de a largar e que ia ao posto de venda de medicamentos pedir um xarope.
Hoje com 65 anos, a divertida e descontraída Sãozinha – é assim que todos a tratamos – foi sempre uma pessoa muito aérea, pelo que, receando a elevada probabilidade de ela se esquecer, recordei-lhe a diabetes tipo 2 que lhe foi recentemente diagnosticada, recomendando-lhe cuidado. Se fosse à farmácia onde é frequentemente seguida, dar-lhe-iam um xarope sem açúcar. Na farmácia toda a gente já a conhece, e mesmo quando vai a outra, puxam a ficha no computador e sabem logo o que ela pode e o que não pode tomar.
Mas noutro espaço, se ninguém lhe pergunta, ela também não se lembra de dizer, e daí até uma hiperglicemia com um simples xarope pode ser um pulo. É que muitos xaropes têm açúcar.
Mais grave foi o que se passou com uma outra amiga minha, a Adelaide.
A Adelaide tem um filho asmático. O miúdo tem agora 17 anos, anda a estudar, e neste Inverno andou muito constipado. Melhorou, mas uma tosse com expectoração andava a impedi-lo de dormir.
A mãe, preocupada com o rendimento dele em época de exames, resolveu comprar uma acetilcisteína em saquetas, por ser fácil de tomar. Mas o modo como o filho reagiu foi muito diferente do esperado, já que o miúdo teve uma crise asmática que o levou ao hospital.
A acetilcisteína é um medicamento não sujeito a receita médica, classificado como expectorante, mas o seu uso pode provocar agravamento respiratório por espessamento das secreções, sempre prejudicial em doentes com asma.
Em suma, o doente também tem deveres, entre eles a necessidade de informar correctamente os profissionais de saúde relativamente às doenças crónicas que possua e, num cenário de aquisição de medicamentos não sujeitos a receita médica, isso é ainda mais importante.