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3 maio 2019
Texto de Maria Jorge Costa Texto de Maria Jorge Costa Fotografia de Ricardo Castelo Fotografia de Ricardo Castelo

Menos é mais

​​​​​​O movimento slow parenting convida a viver sem pressa.

A pressão de dar resposta às solicitações pessoais e profissionais leva muitos pais a viverem em permanente culpa por falta de tempo de qualidade com os filhos. De acordo com o relatório do Fórum Económico Mundial, as mulheres portuguesas trabalham mais 90 minutos por dia do que os homens. Para além das horas fora de casa, ainda recai sobre as mães a maior fatia ao responsabilidade na gestão doméstica: cuidar dos filhos, arrumar a casa e ir às compras ao supermercado. Os números explicam a razão para o sentimento de culpa, a ansiedade e o stress.

Ser mãe (ou pai) aumenta a exigência no mercado de trabalho. O pediatra Lincoln Justo da Silva não tem dúvida de que o Estado é pouco amigo das famílias. «Tanto o Estado como a grande maioria das empresas comporta-se de modo semelhante. Falam muito e fazem pouco em favor das crianças e dos pais», alerta o médico.


Os pais Saúda do Fundão têm horários apertados, mas arranjam tempo para brincar com os filhos

Mesmo sob pressão, há caminhos para facilitar e usufruir de momentos em família. A solução não é encher a agenda dos filhos com actividades extracurriculares para serem os melhores em tudo. As crianças absorvem «o invisível das nossas emoções», desde o útero, sublinha o pediatra. Se os pais forem mais calmos, se viverem menos angustiados, os filhos serão crianças tranquilas. «Não tenho dúvidas. Pais que vivem numa preocupação constante de oferecer o melhor e exigindo aos filhos que sejam os melhores dos melhores, acabam por criar um ambiente tenso, difícil e pouco adequado à maturidade emocional da criança», assegura.

O slow parenting é um movimento criado há mais de dez anos e tem como proposta voltar ao essencial: estar presente, dar muito amor, exprimir e verbalizar os afectos. «As crianças não exigem nada de material. Mas são dependentes do amor, dos afectos, dos abraços da mãe, do pai e dos familiares. Se, desde muito cedo, viverem num meio dominado pela ansiedade de fazer tudo bem, respondem do modo que sabem: choro persistente, dificuldades no sono, dependências várias, dificuldade em estruturar a autonomia ao longo da vida», alerta Lincoln Justo da Silva.


Luís Furtado, de Portimão, num momento de lazer com o filho Dinis

As crianças aprendem pelo exemplo e é nesse campo que o pediatra sugere deixar os telefones, os computadores e a televisão desligados quando chegam a casa. «Se, desde muito pequenas, observam os pais sempre ligados ao telemóvel ou outro equipamento, vão considerar esses esquipamentos indispensáveis para a sobrevivência. Proponho aos pais um uso moderado e ajustado das tecnologias. Sei que é muito difícil, mas o bem-estar é uma conquista, não se recebe como herança, sem trabalho», conclui o pediatra.

A parentalidade é para se viver com simplicidade e sem medos, defende o médico, que acompanha crianças há mais de 40 anos. «Levar a criança a passear no jardim, correr atrás de uma bola, subir a uma árvore, ou simplesmente andar de mão dada são momentos imprescindíveis para consolidar uma parentalidade bonita. Memórias que serão recordadas e reproduzidas pelos filhos, futuros pais», conclui.

A norte-americana Jean Alice Rowcliffe, fundou o movimento slow parenting com a missão de recordar às famílias a importância de diminuir o ritmo de vida e respeitar o tempo e ritmo das crianças. Uma das ideias-chave é dar tempo livre, sem regras nem actividades extracurriculares. Na primeira infância, a principal ferramenta de aprendizagem é a brincadeira.


PRINCÍPIOS DO SLOW PARENTING

  1. Desligar a tecnologia durante, pelo menos, uma hora por dia
  2. As crianças precisam de pais – deixe de tentar ser amiga(o) do seu filho
  3. Aprenda a observar o seu filho e outras crianças, e esteja atenta a essas observações. Perceba as fases do desenvolvimento nas várias idades
  4. A casa é a primeira escola das crianças e os pais são os primeiros professores. Compreenda e valorize a importância do seu papel
  5. O trabalho da criança é brincar
  6. Você deu a vida, mas não é a vida do seu filho
  7. É importante saber dizer NÃO e definir limites
  8. Menos é mais. A criatividade nasce, muitas vezes, do tédio
  9. Compreender, respeitar e honrar a comunidade, dentro e fora de casa
  10. Cultive momentos tranquilos e encontre tempo para esvaziar a mente

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