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1 julho 2017
Texto de Carlos Enes Texto de Carlos Enes Fotografia de Direitos Reservados Fotografia de Direitos Reservados

Mais alto do que as palavras

​​​​​​​​​​​A história de amor de Roberto e Luísa. 

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Em 1986, «Filhos de um Deus menor» aboliu preconceitos quanto às fronteiras dos sentidos e da ficção. A actriz Marlee Matlin tornou-se a primeira surda, na vida real, a ganhar o Oscar para melhor actriz. No filme, ela vive uma paixão arrebatadora e tumultuosa com um professor da fala de métodos revolucionários, interpretado por William Hurt. Ele não aceita o medo dela de falar e acaba confrontado com os próprios medos.

Luísa tinha seis anos. Hoje, aos 36, pode passar a tarde de domingo num sofá, uma mão nas pipocas e a outra apertada na de Roberto. Ele também é médico. Fizeram no mesmo dia o exame de ingresso na especialidade de Medicina Geral e Familiar. Começaram a namorar um ano depois, em 2011. A verdade é que ela já o impressionava há muito, desde os tempos do Liceu Jaime Moniz.

– Toda a gente ouvia falar da Luísa. Era pequenina, mas com uma atitude como se tivesse dois metros.

A irreverência de Luísa era espectacular na Madeira dos anos 90. Não era rapariga para esconder paixões ou namorados. Vivia a vida, imune a preconceitos e limites geográficos. Muito antes de ficar doente, já era uma manifestação incrível da força da natureza e da graça da espécie humana. Roberto Homem de Gouveia não foi o primeiro a cair de quatro, mas teve a felicidade de ser correspondido.

– Eu queria dar felicidade a alguém e também precisava da força dela ao meu lado.

Roberto já fez um curso de linguagem gestual, mas isso não foi o mais importante. O amor começa quando dois seres humanos inventam uma gramática própria.

– Na fase em que ela não ouvia mesmo nada, desenvolvemos a nossa linguagem gestual.

O casal tem grandes planos, como adoptar uma criança, e pequenos planos, tão importantes como os primeiros.  A vida de Luísa é fértil em desgraças e grandes perigos, mas também em alegrias interditas à gente comum. Quando regressou de Manchester com um ouvido biónico, Roberto recorda-se da alegria de a pôr a ouvir música. Endless River, dos Pink Floyd.

It's louder than words 
This thing that we do 
Louder than words
The way it unfurls
It's louder than words
The sum of our parts
The beat of our hearts
Is louder than words
Louder than words​

O professor James Leeds sabe bem a importância desta conquista. Era um homem só quando ouvia música. Roberto Homem Gouveia dançou com ela ao som da guitarra de David Gilmour. Já ninguém lhe tira esse momento de pura felicidade. O amor deles alimenta-se das pequenas vitórias do dia. Se nos tempos de Liceu Roberto já admirava a irreverência de Luísa, agora tem-lhe amor profundo.

– Ser livre não é usar uma mini-saia. 

Enquanto não chegam as crianças, passeiam para todo o lado. Vivem com uma cadela, que lhes apareceu contra o carro no momento certo. Roberto trabalha muito e prefere os períodos em que Luísa trabalha também. Ela ganha energia a tratar dos doentes, fechada em casa aborrece-se. Luísa sempre foi bonita e de nariz empinado. 

– Há todo um pacote Luísa, ela não é uma rapariga qualquer.
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