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27 novembro 2017
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

LEF de prata

​​​​​​​​​​25 anos de Laboratório de Estudos Farmacêuticos.

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​O Laboratório de Estudos Farmacêuticos (LEF) é um mundo de moléculas, fórmulas, máquinas sofisticadas e dossiês complexos. Na Fábrica da Pólvora, em Barcarena, o know-how de 61 profissionais está aliado à mais avançada tecnologia ao serviço das ciências da Saúde, para desenvolver e analisar fórmulas farmacêuticas. O objectivo? Podermos confiar nos medicamentos que tomamos.

Tudo começou na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, já lá vão 25 anos. Em 1994, o LEF autonomizou- se, instalando-se numa vivenda do Restelo. «No piso zero funcionavam os laboratórios», recorda Sandra Romão, a mais antiga funcionária desta empresa «muito familiar», como a descreve. Nesse tempo, o LEF era o primeiro e único laboratório em Portugal a estudar a equivalência dos genéricos face aos originais.

Hoje, é o líder português em serviços para a indústria farmacêutica. A qualidade de medicamentos, cosméticos e suplementos alimentares é estudada por uma equipa de luxo, que há dez anos se mudou para as actuais instalações. O meticuloso trabalho desenvolvido no LEF tem agora lugar em 4.500 metros quadrados, num edifício belo e moderno da urbanização Fábrica da Pólvora, em Barcarena, perfeitamente integrado no verde da paisagem. Cá fora, há muitas espécies autóctones de árvores e plantas, coelhos e lebres selvagens. Lá dentro, sucedem-se os espaços de laboratório de última geração, onde bata, máscara e protectores de sapatos compõem a indumentária obrigatória. A mudança para este espaço permitiu ao LEF dar um 'salto de coelho' na oferta de serviços. O director-executivo, Pedro Marques, garante que a instituição está agora «dotada de todas as condições para operar em múltiplas áreas, sempre com o padrão máximo de qualidade».

A Biofarmácia foi a primeira área desenvolvida pelo LEF, relacionada com o aparecimento dos genéricos. De 1992 para cá, a actividade do laboratório diversificou-se substancialmente, ao encontro das necessidades das farmácias e da indústria. O LEF expandiu os Serviços Analíticos e criou novos: Assuntos Regulamentares e Farmacovigilância; Medicamentos Manipulados; Desenvolvimento Farmacêutico; Ensaios Clínicos e Bioanálise; Formação e Consultoria: e, finalmente, Produção. Sim, o LEF fabrica medicamentos, assim como suplementos alimentares, cosméticos e produtos veterinários.

A garantia de qualidade é o «chapéu-de-chuva» transversal a todo os serviços, na expressão da directora-técnica do LEF, Fátima Carvalho. Estamos no mundo do rigor. Cabe a Fátima Carvalho assegurar que «os equipamentos e as instalações estão qualificados, os processos de fabrico e métodos analíticos validados, os documentos controlados e a equipa de profissionais dotada de formação adequada às tarefas diárias». Qualquer desvio é imediatamente reportado, investigado e corrigido.

O "coração" do LEF bate - e bate forte - nos Serviços Analíticos. E é a responsável por esta área, Ana Brízio, a guiar-nos pelos laboratórios onde são realizados os ensaios aos medicamentos. Uma parte faz-se antes de libertar os lotes para as farmácias, outra «ao longo do seu prazo de validade, para verificar se está bem estabelecido».

No laboratório de cromatografia são quantificadas as substâncias activas, as impurezas e os conservantes: «Analisamos todos os compostos químicos para garantir que estão na dosagem correcta e sem impurezas».

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A visita guiada continua em direcção à grande novidade permitida pelas instalações de Barcarena: a unidade de Microbiologia, que responde a muitas solicitações da indústria, tanto farmacêutica como de dispositivos médicos e produtos cosméticos. Esta unidade tem salas classificadas. Temos de vestir bata, pôr uma máscara e colocar protecção no calçado. O respeito pelas boas práticas de laboratório não admite excepções. O objectivo é impossibilitar qualquer contaminação dos produtos em estudo. «Se ali verificámos a contaminação química, aqui verifica-se a microbiológica, assim como a eficácia dos conservantes quando se trata de uma formulação multidose», expõe Ana Brízio.

Mas isso não chega para garantir a qualidade, segurança e eficácia do medicamento na vida real. A tecnologia instalada no LEF permite avaliar exactamente como vai comportar-se um comprimido ou uma cápsula no corpo humano. Há especialidades terapêuticas de absorção imediata e outras de libertação prolongada. Cada medicamento deve manifestar-se no órgão, dose e janela de tempo previstos. Os ensaios de dissolução simulam o comportamento do medicamento no trato gastrointestinal. O comprimido ou a cápsula são sujeitos a meios laboratoriais que mimetizam os fluidos corporais.

«Quantificamos a libertação da substância activa», explica Ana Brízio. Quando é detectada alguma não conformidade, o medicamento é retirado do mercado.

Neste departamento também são realizados ensaios de estabilidade. O LEF tem vários clientes que se dedicam à exportação de medicamentos. É preciso assegurar, à partida, o bom comportamento das especialidades farmacêuticas noutras zonas climáticas. As câmaras climáticas «permitem, por exemplo, "recriar" um clima com temperatura e humidade elevadas, simulando as condições de África ou da América do Sul». Estes estudos permitem estabelecer o prazo de validade e as condições de armazenamento dos produtos farmacêuticos noutras regiões do globo.

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No ano passado, foram analisados no LEF 6.500 lotes de medicamentos. «E este ano estamos já perto desse número. Um dos nossos maiores clientes está a investir noutros mercados», elucida a responsável.

​​Voltamos a ter de nos vestir com equipamento laboratorial para visitar os departamentos de Desenvolvimento Farmacêutico e de Produção. «Nesta fase, estamos a fabricar, sobretudo, medicamentos e produtos de veterinária», introduz o director-executivo do LEF, Pedro Marques. O LEF está a fabricar 20 mil unidades de champô para cães por semana. Os fiéis amigos das famílias dos portugueses beneficiam de uma gama de produtos diversificada. «Para além dos champôs, de uso frequente e terapêutico, produzimos cremes cicatrizantes para animais de companhia», precisa o responsável do departamento, Amadeu Ribeiro.

Já quanto aos humanos, a capacidade do laboratório não se esgota nos medicamentos. No dia da nossa visita, assistimos à produção de um suplemento alimentar. «Estamos a produzir melatonina de um miligrama», especifica o director de Produção. O LEF fabrica seis mil embalagens por ano deste produto, usado por milhões de pessoas em todo o mundo como regulador da função do sono. Os produtos são comercializados sob as marcas dos clientes do LEF, que não tem produtos de marca própria.

​​Seguimos para o departamento de Biofarmácia. Foi criado há 25 anos, para estudar se os medicamentos genéricos tinham a eficácia dos originais. Está intimamente ligado ao motivo original de criação do LEF, mas não ficou para museu dessa época. «Ainda é um departamento analítico, mas foi crescendo em oferta integrada de serviços, designadamente na área dos ensaios clínicos», elucida a directora, Margarida Barreto.

O LEF tem capacidade para fazer três estudos de bioequivalência por ano. São ensaios clínicos com voluntários, necessários à aprovação de genéricos no mercado. A capacidade instalada não se esgota nas cápsulas e nos comprimidos. Também se fazem aqui estudos de equivalência de genéricos de aplicação e acção tópica. «Desenvolvemos ensaios in vitro em que se utilizam partes de seres vivos. No caso, pele», explica Margarida Barreto. Nos testes de permeação cutânea, compara-se o comportamento do produto no que diz respeito à absorção. Em média, são realizados dois destes ensaios por ano.

O laboratório não presta só estes serviços. Está organizado para desenvolver processos de registo de medicamentos. «Somos o contacto certo para uma empresa que pretende colocar um medicamento em Portugal ou noutros países da UE», afirma Filipa Queirós, especialista em Assuntos Regulamentares. Os profissionais do LEF preparam o dossiê necessário à obtenção de uma autorização de introdução no mercado (AIM) por parte das autoridades regulamentares. «Se for necessário, articulamos com o fabricante para a elaboração do dossiê», explica a especialista. O LEF faz o pré-registo e a notificação ao Infarmed de um pedido de AIM. Normalmente, o processo de aprovação envolve várias exigências de elementos adicionais por parte do regulador. Estes processos são muito complexos e exigentes, mas o LEF está «preparado para fazer o acompanhamento dessa avaliação». Em Portugal, em média, a entidade reguladora leva 210 dias a analisar um pedido de AIM. A intervenção do LEF estende-se para lá da AIM. O serviço de Assuntos Regulamentares trata de questões como «atribuição de preço, comparticipações, manutenção no mercado e alterações».

O acompanhamento do LEF ao ciclo de vida de um medicamento pode compreender a farmacovigilância, como «contacto local». Nesses casos, «submete os relatórios periódicos de segurança e faz a pesquisa bibliográfica, nacional e internacional». Se ocorrer uma reacção adversa, o LEF assume a responsabilidade de notificar o Infarmed e as autoridades europeias.

Há outros ingredientes para além da excelência técnica, científica e tecnológica. «Temos um bom ambiente, com chefias que se preocupam com o bem-estar dos profissionais», nota Sandra Romão, administrativa há 22 anos na empresa. Esta colaboradora acredita que isso contribui para a coesão em torno do objectivo central do LEF: garantir aos clientes a «total fiabilidade do resultado».

Parabéns, pioneiro

«O LEF foi o primeiro laboratório privado a avaliar a qualidade do medicamento em Portugal e continua a ser uma organização de referência no sector», declarou a nova presidente do Infarmed, Maria do Céu Machado, na conferência que assinalou o 25.º aniversário da instituição, realizada no dia 19 de Setembro.

Maria do Céu Machado elogiou ainda a adesão sistemática do LEF a boas práticas, algumas das quais certificadas pelo próprio regulador, e deixou garantias quanto à continuidade do apoio institucional do Infarmed à actividade do laboratório.

Já o presidente da ANF, Paulo Cleto Duarte, recordo que o LEF foi pioneiro no «estudo sobre a qualidade dos medicamentos, muito antes de ser assegurado pelo próprio Estado, em prol da saúde pública do país».

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Maria do Céu Machado, presidente do Infarmed, de visita ao LEF em dia de aniversário​

Está lá? Quero fazer um medicamento

Em Portugal há cerca de 600 farmácias a preparar medicamentos manipulados com frequência. Clarisse Dias é uma espécie de directora-técnica desses produtos, ainda que sem nome nas embalagens. Todos os dias responde a quaisquer dúvidas das farmácias, a partir de uma central telefónica instalada no LEF. Chegou em 2007, como jovem licenciada. Vinha apaixonada pelo mundo fascinante dos manipulados graças à farmácia onde fez o estágio.

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Hoje com 33 anos, esta farmacêutica tornou-se uma autoridade neste domínio, não só do ponto de vista técnico como das tendências de mercado. «Os manipulados remontam ao tempo das boticas», mas não são coisa de museu. «Continuam actuais, até como resposta às lacunas da indústria farmacêutica», garante a nossa interlocutora.

Pediatria e Dermatologia são as especialidades médicas em que são mais procurados. Na Pediatria, a manipulação é muitas vezes solicitada para ajustar às crianças a dose de medicamentos só disponíveis no mercado para adultos. Já em Dermatologia, verifica-se «muita procura de moléculas que nem sequer existem no mercado, como acontece nas formulações despigmentantes com hidroquinona, usadas no tratamento do melasma», doença da pele que provoca manchas escuras devido à exposição solar.

Os medicamentos manipulados não só resistem na era industrial como dão sinais de franca expansão Por um lado, «as empresas de matérias-primas estão a facturar mais». Por outro, verifica-se um «interesse e especialização crescentes por parte do universo de farmácias». Pelo menos 30 farmácias podem ser consideradas especializadas em determinados medicamentos manipulados.

A tendência de fundo para a individualização das terapêuticas concorre para a expansão deste mercado. «Estamos a evoluir no sentido de as pessoas esperarem um medicamento só para elas», nota Clarisse Dias. Nos produtos contra o envelhecimento essa individualização começa a ser uma prática. «Não somos todos iguais. E cada pessoa tem variações ao longo do tempo. E há, também, o utente que pretende formulações sem parabenos ou o utente com requisitos específicos como a intolerância à lactose», exemplifica a especialista. Isto implica um feixe de dosagens e associações de substituição hormonal muito para além do que existe no mercado.

O LEF apoia as farmácias na preparação de medicamentos manipulados em quaisquer aspectos. O cálculo do preço é um tema frequente do apoio telefónico. É difícil um medicamento manipulado custar menos de 25 euros, mas em muitos casos, «100 euros ainda é pouco». Clarisse Dias nota que a farmácia, antes da dispensa, tem de executar muitas outras tarefas, como a selecção do fornecedor das matérias-primas, preparação, controlo de qualidade, registo do lote e rotulagem.

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