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23 maio 2018
Texto de Irina Fernandes Texto de Irina Fernandes Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Há trocos que dão vida

​Francisco Martins é um dos beneficiários do Programa Abem.​​​​

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Francisco, 28 meses, irradia doçura. No olhar, nos gestos e no sorriso. «Até quando estava no hospital, sorria para os médicos. Acho que lá nisso sai a mim».

Mãe e filho são cúmplices. Ele olha-a com amor, ela olha-o com grandiosidade e protecção. Entre os dois há uma força pujante que os faz seguir em frente, sempre.
Francisco da Luz Martins é portador de duas doenças raras. Pesa 8.865 quilos e alimenta-se por uma sonda. Não chora, é intolerante à dor, e tem pouca força nos músculos. Sofre de deficiência em biotinidase (falta de biotina, vitamina essencial) e citopatias mitocondriais (doença da cadeia respiratória, com diagnóstico diverso).

É um dos beneficiários do programa solidário Abem, da Associação Dignitude, que, desde Maio de 2016, ajuda famílias portuguesas carenciadas a ter acesso, gratuito, à medicação prescrita.

Foi através da Farmácia Serra das Minas, em Rio de Mouro, Sintra, que Carla Martins, 44 anos, ficou a saber da existência do programa. «Eu ia sempre lá comprar os medicamentos do Francisco. Um dia, o doutor João Paulo falou-me do Abem».


Mãe e filho são cúmplices. Foi através do centro paroquial que ela formalizou a candidatura ao programa que conheceu na farmácia

Com a ajuda do diácono Carlos Martins, do Centro Paroquial de Rio de Mouro, oficializou a candidatura. «O caso desta família é, de facto, grave. O Francisco necessita de muita medicação e, por isso, atribuímos-lhe o cartão Abem».


O diácono Carlos Martins tem prestado apoio a Carla e Francisco

Uma crise de epilepsia, em Novembro de 2015, nas vésperas de completar um ano, denunciou que Francisco não estava bem. «Isto das doenças raras... são sempre uns nomes tão complicados».

O choque na família foi abrupto. «Os médicos dizem que não há cura. Ninguém garante se ele virá a falar ou a andar».

A vida não voltou a ser igual. Nem para Carla, nem para o marido, Rui Martins, 44 anos, ou o filho mais velho do casal, Rodrigo, 16 anos.

Carla, que até então trabalhava como empregada doméstica, deixou o emprego para «ficar em casa a cuidar do filho», que «sozinho é que ele não fica».

Quando as complicações de saúde se adensaram, Carla e o marido não conheciam o programa solidário Abem. A família apressou-se por isso a reduzir despesas. «Tivemos de recorrer às poucas economias que tínhamos para pagar os medicamentos».

Com gastos mensais na ordem dos «200 e poucos euros só em medicação», a família cortou em bens essenciais, entre os quais o meio de transporte usado para ir para o emprego.  «Entreguei o meu carro. Estava a pagá-lo a prestações… Teve de ser».

Meses mais tarde, o carro, que Rui, pintor de automóveis, usava passou para as mãos de Carla «por causa das consultas» de Francisco no Hospital Amadora-Sintra e no Hospital Santa Maria.

Com o apoio do fundo solidário, Carla e o marido enfrentam o dia-a-dia com menos apreensão. Agora, têm margem, ainda que ligeira, no orçamento familiar para responder a outras necessidades da criança. «Consigo comprar uma peça de roupa, calçado ou comida para ele».

Mãe e filho podem hoje cumprir a terapêutica sem interrupções, adiamentos ou mesmo desistências por falta de dinheiro. O Abem trouxe bem-estar e qualidade de vida à família. «Não ter o peso de pagar os medicamentos ajuda-nos muito».

Carla, que se encontra a recuperar de uma depressão, assume-o com franqueza: sem o apoio do programa solidário Abem, Francisco não teria tudo aquilo de que precisa a nível de cuidados de saúde nem tudo o que merece como criança. «Se fosse só eu a pagar tudo, não conseguia».
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