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1 junho 2018
Texto de Maria João Veloso Texto de Maria João Veloso

Ganhar ou perder é desporto

​​​​​​​​​Forçar o seu filho a ser campeão é uma violência.

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O Bebé Saúda Rodrigo Onofre ainda não tem um ano, mas Ana Sanches não tem dúvidas de que quer estimular o filho para diferentes áreas. A actividade física fará parte do desenvolvimento da criança, ainda que tenha consciência de que «uma carreira desportiva é muito exigente, tanto para o jovem como para os pais. Se ele mostrar apetência para seguir esse rumo, seremos claramente treinadores e adeptos». Nem todos os pais têm este nível de sensatez. Quem nunca ouviu a história de um pai descompensado, aos gritos, a assistir aos treinos do filho? 


A família de Lisboa apoiará incondicionalmente o Rodrigo se ele quiser seguir uma carreira desportiva

O pediatra Hugo Rodrigues diz que é fácil detectar em consulta se os pequenos desportistas estão ou não satisfeitos com a actividade que praticam. «As crianças são muito ‘honestas’ e acabam por verbalizar se não estão satisfeitas».  O Pai Saúda Daniel Conde de Pinho joga basquetebol às quartas-feiras e não esconde que gostava que o filho Daniel, com dois anos e meio, viesse a destacar-se em campo, mas noutra modalidade desportiva. «Não me desagradava que o Daniel fosse ponta-de-lança do Benfica e ganhasse rios de dinheiro para o pai se reformar mais cedo. Eles que experimentem os desportos que quiserem, desde que não implique comprar equipamento caro», brinca.  

A vida da criança desportista, é, no entanto, tudo menos uma brincadeira. Quem não se lembra da história da ginasta romena Nadia Comaneci?

Neuza Almeida, psicóloga do desporto, avança que as crianças «geralmente gostam de estar envolvidas no contexto desportivo pela natureza lúdica, para se divertirem, experimentar novos desafios, fazer amizades, desenvolver uma boa forma física, aprendendo novas habilidades físicas e psicológicas». Quem subscreve esta ideia é a Mãe Saúda Vera Antunes. «O desporto é fundamental, faz bem à saúde e a Margarida tem apetência natural para jogar futebol. Em família formamos uma equipa de futsal». Hugo Silva, segundo comandante dos Bombeiros Voluntários do Fundão, joga amiúde contra os GNR da cidade. «O Hugo será talvez treinador de bancada, mas estarei cá a arbitrar a gestão do tempo», explica a mulher.  

A psicóloga do desporto alerta que «existem atitudes inadequadas dos pais no contexto desportivo, como o facto de se envolverem excessivamente nas actividades desportivas, opinando sobre o trabalho do treinador e dos dirigentes. ‘Apostam’ em excesso na carreira desportiva dos filhos, investem financeiramente de forma desmedida, tendo altas expectativas de performance em relação aos filhos, muitas vezes irreais, adoptando uma postura crítica e concentrando-se apenas na vitória».  

Sem rodeios, Daniel Conde de Pinho assume-se um convicto treinador de bancada. «Não sei ver desporto sem dar indicações aos jogadores, ainda que estejam do outro lado do ecrã». Em relação aos filhos, Daniel garante não ter qualquer vontade de projectar os seus sonhos desportivos.


Quase a fazer um ano de vida, a bebé Saúda Margarida, já uma apoiante fervorosa da Selecção

Afinal, como diz o pediatra Hugo Rodrigues, «a infância é uma altura em que quase tudo é possível na imaginação». E, segundo este raciocínio, não o choca que as crianças queiram imitar os seus ídolos. O Pediatra Saúda realça que nocivas são as expectativas de alguns pais relativamente ao desempenho desportivo das crianças. «Essas podem ser prejudiciais porque vão estar a exigir dos filhos algo que não é suposto, transformando diversão em obrigação».

Para Ana Sanches, o mais importante será mesmo «educar um ser humano completo e íntegro, com várias valências, seja no desporto, seja noutras actividades da vida». Já Daniel não irá coibir-se de comprar um cesto, uma bola e bombardear os filhos com a Oliveirense e o Benfica, «até eles se converterem ao meu credo». Para Vera, o desporto virá sempre depois da escola, das brincadeiras e da família. Na psicologia do desporto há muito trabalho a fazer com pais e filhos, defende Neuza Almeida. Sobretudo «relembrando aos pais que é a vida desportiva dos filhos que está em causa e não a sua, salvaguardando o desenvolvimento da sua identidade. A relação entre pais e filhos no contexto desportivo pode beneficiar um fortalecimento dos laços que os unem, ao tornar este contexto um palco privilegiado de experiências de vida positivas e crescimento dos seus filhos enquanto atletas e pessoas que são». Como ensina o velho provérbio: “ganhar ou perder é tudo desporto”.
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