Não é fácil, no continente ou nas ilhas, encontrar licenciatura tão genuína e avantajada. Bruno Machado estudou doze anos na Faculdade de Farmácia do Porto. Aprendeu Química, Farmacognosia, Virologia, Deontologia. Viveu tão intensamente a fase de formação que se matriculou em diversos estabelecimentos comerciais da cidade, para se apoderar das demais competências convenientes ao exercício profissional, como servir às mesas, auditar preços e transaccionar toda a sorte de produtos em ambiente de mercado, com escassa margem de lucro.
– A vida tem mais valor quando desenvolvemos a capacidade de trabalho.
Não foi fácil arrancá-lo da farmácia para nos guiar pela ilha. Gosta muito do balcão, passa noites de serviço, confere contas e notas de encomenda na cave do estabelecimento. A Farmácia Pimentel, em Angra do Heroísmo, pertence à classe das farmácias-dinastia. Bruno é um farmacêutico de quarta geração. A mãe, Isa Pimentel, conserva a direcção técnica, na placa e de facto. Ele é o próximo, mas não tem pressa nenhuma. Na ilha Terceira, velocidade é sinónimo de absurdo. Na estrada circulam vacas, cabras e ovelhas – e ele passa horas ao volante, a entregar medicamentos ao domicílio. Não se esquece de uma criança da Praia da Vitória a quem levou um Fenistil de madrugada, mas a maioria dos fregueses são idosos solitários e isolados, sem meios próprios de transporte. Gasta 200 litros por mês de gasolina.
– Se fizesse contas ao meu ordenado, este serviço dava prejuízo.
Ainda gosta do Porto como um vício, mas aos 38 anos olha para a frente e vê-se a chegar a velho na ilha. Os filhos crescem tranquilos, até o dia de decidirem qual o diploma que vão querer pendurar na parede da farmácia. Só vai haver quinta geração se eles tiverem vontade, orgulho e prazer nisso.
– Uma farmácia não é uma loja qualquer. Só faz sentido se nos realizarmos profissionalmente.
Portanto, é preciso ter calma, atender o telefone e fazer boa viagem.