RS - Está a fazer música para um filme de animação sobre Fátima.
RM - Estou. O filme é sobre o centenário das Aparições de nossa Senhora aos Pastorinhos.
RS - Como é que foi parar aí?
RM - O Rui Pedro Oliveira, que é o cérebro e produtor do filme, conheceu a minha música e achou que tinha o perfil certo para a banda sonora. Achou que eu podia ser eclético para olhar as várias dimensões da fé e poder servi-las com a minha música, através do filme. Ele queria um filme muito aberto, sobre o ponto de vista do que é a leitura da Fé, hoje em dia no mundo. Ecuménico.
RS - É um filme para o mundo?
RM - Fátima é um dos nossos grandes produtos de exportação para o mundo. Quem é que já não ouviu a expressão dos três efes: "Fado, Futebol e Fátima". São cerca de dois biliões de católicos no mundo, não é? Eu espero que o filme ajude a renovar a Fé, aos olhos das crianças e de todos nós. Na verdade, eu também estou expectante para ajudar a contar a história com a minha música. É a minha primeira banda sonora!
RS - Sente Fátima com Fé?
RM - Sinto. Acho que a Fé é um exercício. Tenho Fé nos homens, tenho Fé que o Homem se saiba posicionar para acreditar. No outro, nos outros homens. Acreditar faz-nos continuar a ser capazes de conceder uma segunda oportunidade e diferencia-nos das máquinas. Estive agora nas cerimónias de Fátima e…
RS - Já tinha ido antes?
RM - Não, foi a primeira vez que fui.
RS - Sentiu essa necessidade?
RM - Sentimos essa necessidade todos, na equipa do filme..
RS - O que trouxe de lá?
RM - Uma emoção extraordinariamente forte, que é: há uma razão para aquelas pessoas se juntarem ali, e não é só o facto de serem mais velhas. É uma razão de evocação conjunta. Juntos somos uma energia maior. É como se sofrêssemos e ganhássemos pelas mesmas razões, sabe? Só não gosto do lado mais penoso que Fátima ainda tem, mas o fenómeno da Fé...
RS - Refere-se aos sacrifícios físicos?
RM - Sim. Acho demasiado, mas… (pausa) Entendo que cada um encontra o seu caminho e eu não sou ninguém para determinar um único. Olhar Fátima da perspectiva de Fé é saber que está muito viva. Fátima é um lugar de culto. Faz parte da nossa história.
RS - É cristão, é católico?
RM - Sou. Tenho educação católica, tenho a primeira comunhão feita. Não vou à igreja regularmente, mas acredito que a Fé tem de ser difundida por algum meio. É como a política. O exercício da vida em comunidade tem de ser feito e melhorado por algum meio - e a política é o meio que existe. Também precisamos de Fé e de meios para difundir a Fé, para a tornar acessível. Foi realmente extraordinário assistir a duzentas mil pessoas ali em comunhão. Quando dei por mim, estava a chorar. Senti: «O que é que se está a passar aqui? Já não sou eu a controlar o meu corpo»... Há ali uma energia maior do que a minha, não sei explicar. É uma energia conjunta dos Homens.
Leia a entrevista completa ao maestro na Revista Saúda de Setembro. Já nas bancas com o Expresso e quinta-feira com a Visão.