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7 junho 2019
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Miguel Ribeiro Fernandes Fotografia de Miguel Ribeiro Fernandes

É urgente investir na prevenção

​​​​​Mais de metade dos portugueses vive com pelo menos uma doença crónica.

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As doenças crónicas estão entre as principais causas de morte e incapacidade no mundo. As mais fatais são as cardiovasculares. O panorama tende a agravar-se. Entre 2007 e 2017, as doenças crónicas aumentaram 40 por cento no mundo e, daqui a 20 anos, vão ser a causa de morte de sete em cada dez pessoas. O tema foi debatido na conferência anual da Plataforma Saúde em Diálogo, que decorreu a 31 de Maio, em Lisboa. 

A ministra da Saúde, Marta Temido, abriu a conferência com o balanço da situação nacional. Por cá, as doenças crónicas estão entre as dez principais causas de morte e morte prematura. Mais de metade de todas as mortes, em 2017, tiveram origem em doenças do aparelho circulatório e tumores malignos. O último Inquérito Nacional de Saúde revelou que mais de metade dos portugueses vive com pelo menos uma doença crónica e 16 por cento tem três ou mais doenças crónicas. Mais de dois milhões de portugueses vive com artrose ou algum tipo de problema músculo-esquelético. Mais de 800 mil têm diabetes e mais de um milhão sofre de depressão. 



A estratégia de redução da doença crónica passa pela adopção de estilos de vida saudáveis para reduzir o seu crescimento, e pela resposta integrada dos serviços de saúde para melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem com doença crónica. Marta Temido lembrou as políticas públicas adoptadas para reduzir os factores de risco das doenças crónicas. É o caso da lei do tabaco, revista em 2017, e do imposto sobre as bebidas açucaradas, também desse ano. A par disso, é essencial apostar na literacia em saúde, para que a sociedade faça escolhas conscientes.

A resposta ao problema não se esgota no Serviço Nacional de Saúde. A ministra defendeu a necessidade de uma «reengenharia de cuidados e da própria sociedade, que dê resposta efectiva e integrada às pessoas que vivem com doença crónica. Apoiando-as e aos seus familiares, potenciando a sua participação no processo de cuidados mas, também, na definição das políticas e respostas do sistema, permitindo-lhes, deste modo, viver mais anos, com maior qualidade de vida, mais autonomia e maior capacidade de gerir a sua saúde».

Oito em cada dez doenças crónicas têm origem comportamental. Por este motivo, a prevenção deve ser assumida como a estratégia para combater as doenças crónicas, defendeu Francisco Goiana da Silva, do Centre for Health Policy, Institute of Global Health Innovation. «A solução passa por evitar que as pessoas fiquem doentes. Ter um estilo de vida saudável não é ciência aeroespacial. Todos sabem o que é preciso fazer».



É preciso agir e implementar, centrando o investimento na prevenção. «Put your money where your mouth is», apelou Francisco Goiana da Silva, instando o Estado português a investir onde faz falta. A despesa do Estado português com a doença crónica tem vindo a disparar desde 2014. Mas apenas um por cento do orçamento da Saúde é investido em prevenção. A média europeia é de três por cento. «A única forma de o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ser sustentável é investir na prevenção», disse Francisco Goiana da Silva. Outra evidência é que «o Ministério da Saúde não pode fazer tudo sozinho. É preciso envolver as escolas e as autarquias». 

Intervir na prevenção das doenças crónicas é agir em quatro áreas. No tratamento de lesões, área em que «o SNS é já muito eficaz», mas também em actividade física, alimentação saudável e saúde mental. São áreas dispersas por diferentes ministérios, como a Educação e a Agricultura, mas o Ministério da Saúde deve ser chamado a intervir, pois é lá que se fazem sentir as consequências das más políticas. 

As pessoas que vivem com doença crónica nem sempre obtêm o melhor apoio, seja enquanto crianças, na escola, seja no universo laboral. Não raras vezes, as crianças afectadas por doenças crónicas são vítimas de bullying. «É um drama a vida das crianças que têm dermatite atópica, pois os outros pais pensam que é contagioso», explicou Mário Morais de Almeida, da Associação Portuguesa de Asmáticos, que defendeu a importância de manter uma comunicação permanente com a comunidade escolar, explicar o diagnóstico e educar os cuidadores na escola.



Quem padece de uma doença crónica não pode trabalhar em igualdade de circunstâncias com os restantes colaboradores. Mas pode trabalhar, se tiver condições para isso. Pode ser preciso garantir que haja uma casa de banho sempre disponível. Ou ajustar os horários, permitir pausas regulares, aceitar o trabalho a meio tempo ou em regime de teletrabalho. Ou ainda ter equipamentos ergonomicamente adaptados, como cadeiras ou telefones de mãos livres. «Coisas simples, mas que requerem a aceitação dos colegas e da entidade patronal», explicou Inês Afonso, que sofre de fibromialgia. 

As pessoas com doenças crónicas devem ser vistas como activos e não como «activos de alto risco», disse Alexandre Silva, que sofre de esclerose múltipla. Qualquer doente crónico quer ter uma vida «o mais normal possível», «ninguém quer ser aposentado por invalidez». Quando não são criadas condições para que possam continuar a trabalhar, muitos optam por baixas prolongadas. «Muitas vezes acabam desempregados, dependentes de terceiros e sem dinheiro para fazer os tratamentos», concluiu Inês Afonso.