Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
23 maio 2018
Texto de Carlos Enes e Rita Leça Texto de Carlos Enes e Rita Leça Fotografia de Direitos Reservados Fotografia de Direitos Reservados

Doentes aprovam farmácias

​​​​​​​A competência dos profissionais é um dado unânime.

Tags
​A dispensa de medicamentos para o VIH-sida nas farmácias comunitárias facilita o acesso aos medicamentos e corresponde às melhores expectativas dos doentes. É o que se conclui de um estudo de satisfação que reuniu peritos do Centro de Estudos de Medicina Baseados na Evidência (CEMBE) da Faculdade de Medicina de Lisboa, do Centro de Estudos Aplicados (CEA) da Universidade Católica e do Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR) da Associação Nacional das Farmácias (ANF).

«Do conjunto de resultados obtidos emergem ideias de base que incluem a elevada satisfação das pessoas que vivem com VIH com o serviço prestado, bem como uma maior comodidade e conveniência nas deslocações à farmácia», conclui o relatório final, apresentado no Infarmed no dia 27 de Abril.

O estudo abrangeu 43 portadores de VIH, maiores de 18 anos, habitualmente seguidos no Hospital Curry Cabral, que escolheram um total de 29 farmácias de Lisboa e concelhos limítrofes para passarem a receber os seus medicamentos. Passados seis meses manteve-se a estabilidade clínica dos doentes, o que foi medido indirectamente por não terem ocorrido abandonos. A satisfação com os farmacêuticos também não sofreu alterações sensíveis. A competência dos profissionais é um dado praticamente 
unânime em ambos os ambientes. Em todos os outros aspectos, as farmácias comunitárias alcançaram melhores resultados.

Todos os doentes, sem excepção, avaliam positivamente “a experiência global do serviço” prestado pelas farmácias comunitárias; 82,5% declaram-se mesmo “muito satisfeitos”, o que duplica o resultado dos hospitais.

As farmácias conseguem também a aprovação quase unânime dos doentes num aspecto sensível: 97,5% dos inquiridos mostrou-se “satisfeito” ou “muito satisfeito” com a privacidade que lhes foi garantida. Por contraste, 19,5% dos doentes declaram-se insatisfeitos com a privacidade oferecida no meio hospitalar e 22,5% consideram-na apenas “razoável”. As farmácias também ultrapassam os hospitais no indicador “dignidade e respeito”.

Como se esperava, as farmácias comunitárias facilitam o acesso aos medicamentos. Os doentes ganham meia hora no tempo de deslocação (12 minutos, contra 46 para chegar ao hospital) e esperam menos tempo para serem atendidos (cinco minutos, em lugar de 16). Mais de metade dos doentes (59%) passou a ir buscar os medicamentos a pé, enquanto no hospital isso só era possível num quinto dos casos (19%). Neste aspecto, «os resultados devem ser interpretados com prudência, uma vez que se trata de uma amostra num contexto urbano, muito específico, de pessoas que vivem com VIH seguidas apenas num hospital», descrevem os relatores do estudo, Miguel Gouveia, economista da Universidade Católica, e Margarida Borges, directora-adjunta do CEMBE da Faculdade de Medicina de Lisboa. Neste sentido, «é possível admitir que, por exemplo, em zonas rurais ou em regiões em que a distância média aos hospitais seja superior, os impactos na comodidade e conveniência das pessoas sejam diferentes».



Estes são os primeiros resultados conhecidos do projecto-piloto em curso no Hospital Curry Cabral, encomendado pelo Ministério da Saúde ao Imperial College, de Londres, e que arrancou em 1 de Dezembro de 2016.


Os resultados foram obtidos com base em dois inquéritos de autopreenchimento, por parte dos doentes que aceitaram integrar o estudo. O primeiro, sobre a satisfação com a farmácia hospitalar, foi rea​lizado na primeira visita à farmácia comunitária. E o segundo seis meses depois, com os mesmos parâmetros, sobre a avaliação da experiência com as farmácias comunitárias. Os inquéritos foram respondidos em papel, por forma a assegurar a confidencialidade das respostas», descreve o relatório final.​




Programa do Governo

O Programa do Governo prevê a delegação parcial nas farmácias da dispensa da terapêutica
para o VIH-sida, bem como da terapêutica oral em oncologia. «Valorizar o papel das farmácias comunitárias enquanto agentes de prestação de cuidados», «aproveitamento dos respectivos serviços» e «utilização racional do medicamento» são os argumentos do Governo para esta reforma.

315 farmacêuticos prontos a intervir

Até ao momento, 315 farmacêuticos de 204 farmácias estão habilitados pela Ordem dos Farmacêuticos a fazer a dispensa de anti-retrovirais. Receberam formação em epidemiologia, clínica, diagnóstico, terapêutica e intervenção farmacêutica na infecção VIH, bem como sobre o circuito logístico e o registo do projecto-piloto. O programa informático de suporte à dispensa de medicamentos foi objecto de melhorias específicas.

Mais de 30 mil doentes

Em Portugal, em 2016 encontravam-se em seguimento cerca de 34 mil portadores de VIH, dos quais 31 mil tratados com anti-retrovirais. O sucesso destes medicamentos contribuiu para que os doentes tenham uma esperança de vida cada vez mais próxima da verificada na população geral.

Experiência internacional

Os medicamentos anti-retrovirais já são dispensados nas farmácias comunitárias em países como a França, Suíça, Bélgica, Itália, Reino Unido, Suécia, Canadá e Austrália.​