Para a especialista em Saúde Materna Marília Pereira, «a função da dor no momento do parto é dar pistas para posições de conforto que ajudem neste trabalho de dar a vida». A dor deve ser olhada com optimismo. Até porque quando chega o dia do nascimento de um filho a futura mãe estará mais ou menos programada. Sabe que as contracções têm intervalos e são intermitentes. Uma dor com um fim maravilhoso, que é ter um bebé nos braços. «O medo no parto tem a ver com a sociedade em que vivemos, que o liga imediatamente à dor», afirma a enfermeira.
«O parto deve ser activo, respeitado. A família ouvida». Marília aconselha o casal a fazer o próprio plano de parto. «Peguem numa folha em branco e criem o vosso próprio documento, com preferências e opções», A enfermeira explica que a Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto tem um plano de parto que pode ser um bom ponto de partida.
Além da dor, há mães que têm medo que aconteça alguma coisa ao bebé e preferem jogar pelo seguro, optando por um parto induzido ou por uma cesariana. Ainda assim, tomada a decisão, os pais devem colocar duas questões ao obstetra: Quais são os benefícios e riscos desta intervenção? O que acontece se eu disser não? «Nunca aceite como resposta: "Isto é o melhor para o seu bebé"», alerta Marília Pereira.
Ana, do Furadouro, teve de fazer cesariana por diagnóstico de pré-eclampsia
A mãe Saúda do Furadouro, Ana Gonçalves, sempre quis ter um parto natural, a anestesia é que a apavorava. A médica disse-lhe que depois de duas cesarianas o risco de ruptura do útero é muito grande se optar por um parto natural. «Ninguém imagina a pena que tenho de já não poder ter essa experiência», afirma Ana. Outro mito é o jejum imposto durante o trabalho de parto. A enfermeira especialista em Saúde Materna previne que, mesmo em caso de cesariana, a Organização Mundial de Saúde admite a ingestão de líquidos claros e refeições ligeiras. A parturiente não precisa de ficar tanto tempo sem comer.
Relativamente ao facto de se desejar “uma hora pequenina”, a especialista pensa estar relacionado com a ideia de que o trabalho de parto decorre ao longo de 20 horas. Se a "hora pequenina" se concretizasse, «o parto seria demasiado rápido e intenso.» Quando se fala em trabalho de parto de 20 horas, não se está a falar de contracções de minuto a minuto. «Infelizmente, temos muitas grávidas a irem cedo de mais para o hospital». Não foi o caso de Vera Antunes, do Fundão, que realizou um sonho. «O parto natural era a minha primeira opção. Fui sempre muito tolerante à dor e não era essa a minha preocupação, mas sim se estaria durante muito tempo em trabalho de parto», conta. Ao todo foram quatro horas, desde que as águas rebentaram até ao momento do nascimento. Nas duas gravidezes foi assim.
Em Portimão, Zara ficou aliviada ao saber que a posição pélvica do bebé a indicou para cesariana
Já Zara Mesquita, a mãe do Bebé Saúda de Portimão, sempre teve medo do parto. Desde que recebeu a notícia de que o bebé estava em posição pélvica e faria uma cesariana, ficou mais tranquila.
Rodrigo quis nascer durante o NOS Alive, em Lisboa
Para Marília Pereira, o segredo é tirar o foco da dor como sofrimento. Relaxar e ter pensamento positivo também ajuda. Ana Sanches teve um «parto demorado». As águas rebentaram no Festival Nos Alive e dali seguiu para o Hospital Garcia de Orta, em Almada. Conseguiu um parto respeitado e Rodrigo nasceu com ela sentada num banco adequado para o efeito. As águas rebentaram às 23h00 do dia 6 de Julho e Rodrigo nasceu perto das 22h00 do dia seguinte. «No fim, a sensação foi avassaladora. Por ter superado um desafio enorme que me gastou energia, mas trouxe uma vida para sempre ligada a mim». Marília Pereira é autora do blogue
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