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9 outubro 2017
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Miguel Ribeiro Fernandes Fotografia de Miguel Ribeiro Fernandes

Coimbra é uma lição saudável

Aqui formou-se a primeira mulher, no século dezanove.​

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É no orgulhoso Penedo da Saudade, estendido em socalcos sobre a zona oriental de Coimbra até desembocar no Mondego, que encontramos José Martins Nunes, médico apaixonado pela biografia de Portugal e guia do passeio pela cidade dos estudantes. 

O ar da tarde está fresco, convidando a uma caminhada sem pressas. O Penedo é especial, introduz o cicerone porque liga «gerações antigas e modernas com o espírito de Coimbra, da universidade».

«Foi construído no século XIX. As várias gerações de cursos que se formavam deixavam aqui um testemunho quando faziam 25, 50 anos de formatura», conta. 

A tradição de vir ao rochedo, donde se avistam as serras da Lousã e do Roxo, mantém-se até hoje. As inscrições em pedra, com poemas e hinos de antigos estudantes à Universidade de Coimbra (UC) sucedem-se. O guia chama a atenção para uma delas, já praticamente ilegível, deixada por Domitila de Carvalho, a primeira mulher formada em m​atemática e filosofia em Portugal em finais do século XIX.

Seguimos para a mais antiga universidade portuguesa – e uma das mais antigas do mundo, onde se formou, por exemplo, o Nobel português da medicina, Egas Moniz. Criada em 1290, a UC soma mais de sete séculos de história. Em 2013, o legado enquanto património mundial da humanidade foi reconhecido pela Unesco.

No átrio da Faculdade de Medicina, José Martins Nunes mostra-nos um fresco de grandes dimensões de Severo Portela Júnior, a representar a história da medicina, que é também a de Coimbra. Afinal, esta é a casa do pai do Serviço Nacional de Saúde, António Arnaut.

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O Paço das Escolas, na universidade, é um lugar fulcral da História

Seguimos para o pátio do Paço das Escolas para a  Sala dos Grandes Actos. «D. Afonso Henriques instalou-se neste palácio. Todos os reis da primeira dinastia viveram aqui», explica. 

Grandes retratos de monarcas impõem-se entre flashes e olhares curiosos dos visitantes. «Esta é a [antiga] Sala do Trono. Provavelmente, foi aqui que D. Afonso Henriques decidiu conquistar o reino para Sul e tomou as grandes decisões, assim como os seus filhos, netos. Estamos a falar do paço real de toda a primeira dinastia! A História de Portugal começou aqui», diz o cicerone.​

Houve outro momento-chave testemunhado por estas paredes da sala: a eleição do Mestre de Avis pelas Cortes de Coimbra em 1383 e que, pela primeira vez, incluiu o povo. De estilo gótico, a Alcáçova mantém as estruturas do antigo palácio árabe. Após a conquista cristã da cidade, tornou-se o primeiro paço real do país.

A tarde aproxima-se do fim. Descemos as escadas do Quebra Costas, no coração histórico da cidade, com os seus restaurantes de fado e lojas que misturam tradição com juventude, e atravessamos a Porta de Almedina.

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D. Afonso Henriques está sepultado no Mosteiro de Santa Cruz

Na Praça 8 de Maio, fica o Café Sta. Cruz, dos mais simbólicos da cidade. «Era o café dos intelectuais, dos homens da política.» Outro tesouro espera-nos no largo – o Mosteiro de Sta. Cruz. Fundado em 1131 pelos Cónegos Regrantes de Sta. Cruz, recebeu privilégios papais e doações dos primeiros reis. D. Afonso Henriques está sepultado na Igreja de Sta. Cruz.

No dia seguinte de manhã descobrimos outra Coimbra. Do terraço do Hotel Sapiência, aberto há três meses numa encosta da Alta, avista-se tudo o que o olhar alcançar. Muito perto, o Paço das Escolas, com a imponente estátua de D. João III. Do outro lado, serras e lugares distantes e, aos pés da cidade, o Mondego. 

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A cidade vista da outra margem do rio Mondego​

Na margem direita do rio, vislumbra-se o Parque Verde, 400 mil metros quadrados projectados para relaxar. Há esplanadas, ciclovias, parque infantil, espaços de exposições. Na esquerda, fica a Quinta das Lágrimas, eterna testemunha do amor trágico de D. Pedro e Inês de Castro, inspiração para artistas e escritores ao longo de mais de seis séculos. Afinal, as rochas da Fonte das Lágrimas, como a denominou Camões em ‘Os Lusíadas’, ainda mantêm os tons rubros do sangue que Inês terá jorrado quando foi assassinada a mando de D. Afonso IV.

 ‘Coimbra é uma lição’, como diz o fado. Uma imensa lição.

 

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