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2 setembro 2017
Texto de Nuno Monteiro Pereira (Urologista e Andrologista) Texto de Nuno Monteiro Pereira (Urologista e Andrologista)

Breve História do falo

​​​​​​​Os primórdios do órgão sexual masculino.

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​Falo é o nome que se dá à representação do pénis. Na antiguidade era considerado uma imagem sagrada, venerada como objecto de culto. Era um símbolo místico e religioso, representava a força da Primavera e a fecundidade da terra, protegia a vida contra as forças malignas que pudessem ameaçá-la. O culto do simulacro do pénis estendeu-se pelo globo.  Vigorou no Egipto, na Pérsia, na Síria, na Grécia e em Roma.

Floresceu na Índia e no Japão. Estabeleceu-se em África. Quando os europeus chegaram às Américas, descobriram-no na cultura maia e azteca. Um culto tão antigo e universal não pode deixar de nos espantar e questionar.

As primeiras representações fálicas surgiram no período pré-histórico. Os menires, monumentos telúricos de evidente simbolismo místico e religioso, são velhas representações de masculinidade. Com a expansão da idolatria e do culto dos mortos, a imagem do falo passou a apresentar-se desproporcionadamente grande, revelando-se como objecto da veneração.

Na mitologia grega, a representação de pénis erectos à entrada de edifícios públicos, nomeadamente templos e teatros, é reveladora da importância simbólica atribuída ao pénis e à masculinidade. A imagem do deus Priapo e o altar fálico da ilha de Delfos são exemplos marcantes.

Também a civilização romana foi rica em obras com um conteúdo fortemente erótico, encontradas em prostíbulos e casas particulares. Eram frequentes as imagens de Mercúrio exibindo grandes falos. Havia falos-amuletos suspensos nos pescoços ou nos ombros de homens, mulheres e crianças para desviar efeitos de olhares invejosos.

Após a queda do Império Romano, com a crescente influência do cristianismo, o culto foi diminuindo. A partir do século IV, os “pais da Igreja”, em particular Santo Agostinho, reinventaram o pudor e o pecado. A doutrina bíblica ensinava que Adão e Eva, quando expulsos do Paraíso, haviam sentido vergonha da sua nudez e coberto a região púbica com folhas de árvore. A representação do pénis foi remetida para uma acção proibida.

O Renascimento recuperou a representação na pintura e na escultura. O falo, antes associado ao divino, passou a associar-se ao masculino. As pinturas e esculturas religiosas de muitos artistas assumem o nu e a exposição do pénis. Mas a Igreja em muitos casos mandou tapar a representação do órgão, à revelia dos desejos ou da memória dos autores.

No século XVIII, ressurgiu a arte erótica, acompanhando uma igual tendência na literatura. O pénis passou a ser mostrado como a masculinidade dominadora, adorado pelas mulheres e venerado pelos homens.

Ou seja, o culto do falo reacendeu-se. Mas só no século XX, com o desenvolvimento de novas formas de expressão artística, como a fotografia, o cinema e a banda desenhada, o nu masculino foi assumido plenamente. As provocações transgressoras das vanguardas artísticas consumaram a ruptura. O pénis passou a ser representado com uma fortíssima carga erótica, por vezes agressiva, chocante, raiando o pornográfico. Cada civilização, cada época, cada artista representou o pénis segundo os seus conceitos. Na era da informação e da globalização o culto do pénis persiste. Invoca sobretudo conceitos de raça, de homossexualidade, de masculinidade. Mau grado variadas contracorrentes, o pénis continua, talvez até mais do que nunca, a simbolizar a condição masculina e a masculinidade.
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