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10 setembro 2018
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

«As gémeas existem mesmo»

​​​​​​​​​As escritoras de “Uma Aventura” alertam para programas pesados e extensos no ensino obrigatório.

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​Cresceram com grandes contadores de histórias. Como foi?
Isabel Alçada (IA) -  Quando penso na infância, tenho logo um calor de alegria por pensar que tive tantas oportunidades de disfrutar da vida desde o princípio. Os mais novos adoravam ir para a minha casa porque o meu pai estava sempre a inventar coisas. A primeira coisa que fazia quando chegava a casa era mostrar o jornal e dizer: «Sabem o que aconteceu hoje?».
Ana Maria Magalhães (AMM) - Costumo chamar à minha infância o tesouro que ninguém me pode roubar. Um ambiente muito alegre, cheio de amor. A minha mãe era super criativa, inventava histórias e obrigava-nos a inventar.

Estudaram Filosofia, escolheram o ensino. Como se conheceram?
AMM - Conhecemo-nos em 1976, na Escola Fernando Pessoa, em Lisboa, para onde fomos trabalhar para o segundo ciclo, uma como professora de Português, outra de História.
​IA - Tivemos um horário que nos proporcionou a possibilidade de trabalhar juntas porque tínhamos as mesmas turmas e trocávamos: eu dava Português, a Ana dava História a umas turmas e nas outras era ao contrário. Começámos logo a preparar aulas em conjunto.


A cumplicidade começou há 42 anos na escola Fernando Pessoa, em Lisboa

E a escrever juntas?
AMM - Escrevemos histórias para os nossos alunos sem intenção de publicar, só para os cativar para a leitura, porque não encontrávamos livros que agradassem às turmas que não gostavam de ler. Em 1982, a Isabel teve a ideia de experimentar fazer um livro e tentar publicar.

Foi o início de “Uma Aventura”. Como surgiram as personagens?
AMM - Foram escolhidas entre alunos. As gémeas, o Pedro e o Chico foram meus alunos de Português e alunos de História da Isabel. O João não era nosso, mas quando estávamos a escolher as personagens, o cão dele apanhou o portão aberto, entrou na escola e pregou um susto medonho a toda a gente.
​IA: Um dos capítulos era precisamente "De quem era aquele cão?”. Fomos atrás do dono do cão.

Ainda os vêem?
AMM - Com os rapazes perdemos o contacto, suponho que emigraram. As gémeas, costumamos vê-las na Feira do Livro de Lisboa. Vão-nos visitar, mostrar os filhos, conversar um bocadinho. Quase todos os dias vou a escolas ou a bibliotecas e os alunos e eles querem sempre saber coisas das gémeas.

“Uma Aventura” vendeu oito milhões de exemplares. Qual o segredo?
AMM - Foi uma pedrada no charco quando apareceu. Só havia livros muito poéticos, muito simbólicos, que não é o que as crianças gostam mais. Por isso foi um êxito tremendo.

Como criam as histórias?
AMM - Primeiro é preciso ir ao local. Por exemplo, a Serra da Estrela está lá todo o ano, como é óbvio, mas quando pensamos em Serra da Estrela pensamos em neve. Estivemos à espera de um nevão para ir. Depois fomos visitar casas de férias de pessoas conhecidas, entrevistar famílias da Serra da Estrela, comer queijo da serra. É importante o cheiro, o sabor, o espírito da terra. 
IA - O queijo da serra tem, aliás, um papel muito importante na história, que não digo porque podem alguns leitores estar a ler, mas podem ter a certeza de que o queijo tem um papel importante no mistério!

Alguma vez pensaram em ser outra coisa que não professoras e escritoras?
IA - Quando era pequena, queria ser aviadora.
​AMM - E eu médica, mas não tenho sangue frio.


Uma sonhou ser aviadora, outra pensava ser médica. A escola juntou-as

Para comunicar com os mais jovens, têm de estar perto deles.
IA - É muito importante manter o contacto com as idades a que nos dirigimos. Acho que os adultos que comunicam bem com crianças são aqueles que se lembram dos sentimentos que tinham quando eram mais novos.

As gerações actuais são muito diferentes?
AMM - Houve um cientista que me disse uma vez: «Nós somos iguais desde o Neolítico». Mas hoje uma criança pode viver numa aldeia e já fez viagens de estudo a Paris, já participou em jogos de desporto escolar em qualquer parte do mundo.
​IA - E a leitura traz um enriquecimento enorme.


«Fazemos um ensino para crianças muito inteligentes. Um dia a escola vai ter de entender que tem de contemplar a diversidade»

A Isabel foi comissária do Plano Nacional de Leitura. Como são escolhidos os livros?
IA - A missão era fomentar o interesse e o gosto pela leitura, garantindo que todos têm oportunidade de contactar com uma grande diversidade de livros. E criámos um momento importante, que se chama Semana da Leitura, para festejar ainda mais essa presença na escola. Deu muito bom resultado.
​AMM - Praticamente todos os livros foram analisados e só ficou de fora aquilo que tivesse erros.

O que pensam do ensino em Portugal?
IA - Avançámos muito na educação de adultos quando eu estava no Governo [enquanto ministra da Educação] mas depois recuámos muito. Agora está-se a fazer um esforço para avançar outra vez.

E o ensino dos jovens é equilibrado?
AMM - Acho que está muito ‘pesado’. Os programas são muito extensos, muito exigentes. Por exemplo, programas de Matemática no segundo e terceiro anos de escolaridade são matérias que nos países do Norte da Europa são dados mais tarde. E nós fazemos um ensino para crianças que são muito inteligentes, gostam muito de estudar e têm muito apoio, mas isto não cobre a totalidade. Um dia, a escola vai ter de entender que tem de contemplar a diversidade. Os programas preparam um molde e querem meter toda a gente lá dentro, só que há muitos que não cabem e outros que sobram.

Têm alguma farmácia preferida?
IA - Venho trabalhar com a Ana a Alvalade e passei a ir a uma farmácia ao pé. Acho muito importante a relação com a farmacêutica. Confiamos na pessoa.
​AMM - Deus me livre de não ter farmácias por perto para tudo: para comprar os medicamentos, cremes, medir a tensão, pesar-me, vacinar-me contra a gripe, levar os filhos, os netos, tratar de imensos assuntos. Há duas especiais: a Farmácia Rio de Janeiro e a Farmácia Zil, onde são carinhosos comigo e já sabem o que eu preciso. Sinto-me muito à vontade.​

"Inspector Max" (a partir da série da TVI) e "Uma Aventura no Fundo do Mar" preenchem os dias das duas amigas

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Planos para o futuro?
AMM - A TVI fez o “Inspector Max” e pediu-nos um livro do inspector Max, uma história original com aquela equipa, com aquele espírito, que está pronta e muito nos divertiu.
IA - E temos outra aventura anunciada, “Uma Aventura no Fundo do Mar”. Fizemos a pesquisa no princípio do Verão, no Algarve.​

 

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