«O covano não jorda a piação dos charais da terruja», lança Carlos Alberto Jorge, especialista nas grutas de Mira de Aire, que conhece a fundo a cultura da terra. Para logo traduzir: «A pessoa que está presente não percebe o falar das pessoas cá da terra». Aprendeu e não esqueceu o linguajar típico das pessoas da bacia Mira-Minde.
É com gosto que Carlos desfia uma quantidade de expressões em dialecto mirense: «“A tirrazinha é cópia” significa “a cachopa é jeitosa”. Já “a tirrazinha é didi” quer dizer que ela é má. “O gandil é cópio” significa “o vinho é bom”. Uma pele é uma “berliqua”, um cabrito um “saltacatrepa”».
O dialecto era uma forma de os negociantes comunicarem entre si, sem as pessoas perceberem. «Porque o segredo era a alma do negócio», esclarece Carlos. Nasceu na freguesia de Minde, mas era também usado em Mira de Aire e na serra de Santo António. «Chamávamos-lhe o calão dos negociantes». Pode ter tido origem nos religiosos do Hospício de Sant´Ana, criado no reinado de D. João V. «Estes frades trouxeram a técnica para fazer mantas, artefactos e panos grossos, e começaram a vender fora o excedente». Em Mira de Aire, era falado sobretudo pelos negociantes que corriam o país a comprar peles para depois as venderem às fábricas de curtumes de Alcanena.
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