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24 novembro 2015
Texto de Filipe Mendonça Texto de Filipe Mendonça Fotografia de Tiago Machado Fotografia de Tiago Machado

A minha primeira corrida

​​​​A vida inteira em 42.195 metros. Um diálogo profundo e emotivo com aquilo que somos.
«Vamos lá», suspira Fernando. «Atenção que hoje é para fazer a 5:30 o quilómetro», avisa Filomena. Às vozes dos mais velhos, Isabel responde com mais uma gargalhada do norte em pleno treino. «Somos uma família. Eles são os meus pais de Lisboa e quando chega a hora do aperto, na corrida, ou na vida, estamos cá uns para os outros». É aqui que começam os 42.195 metros para o trio que se conheceu no ginásio.

A ideia surgiu há um ano. No dia em que soprou as 60 velas, Fernando Moreira lançou o desafio às duas amigas. «Claro que alinharam. Não são mulheres de virar a cara a desafios». Estava assumido o compromisso, fazerem juntos a prova rainha do atletismo. Foi nesse dia que a maratona começou. Filomena lançou-se na pesquisa de planos de treino, Isabel Silva organizou a logística. «A minha primeira maratona tem de ser no norte, a minha terra natal, foi por isso que optámos pelo Porto», explica a benjamim do grupo. O treino corre, literalmente, mas o corpo começa a dar sinais. «É muito exigente. Sinto-me cansada e com desgaste muscular. Se estivesse nisto sozinha, acho que já tinha desistido. A carga de treino, a obrigação de cumprir o plano, o joelho que já dói, tudo isso é um peso que começa a afectar-me bastante», desabafa Filomena Martins. É nestes momentos que a “família” fecha o círculo.

«Há dias em que a auto-estima cai. Temos de nos agarrar uns aos outros e pensar que estamos nisto juntos. O meu objectivo é terminar a maratona feliz e com saúde, mas com a Filomena e o Fernando. Foram eles que me inspiraram e é graças a eles que já me sinto capaz de inspirar os outros». É assim que Isabel Silva resume o desígnio. Ninguém corre sozinho. 

No plano do grupo constam três treinos semanais, um dos quais é longo (entre 21 e 30 km). «Tento transmitir-lhes que quanto melhor treinarmos, menos difícil será no dia da prova», explica Fernando, no tom de quem sabe ao que vai. Já fez uma maratona e não poupa nos conselhos. «Até aos 25, 30 km, corremos com prazer, mas depois disso não é bem assim. O dia da maratona é sempre uma incógnita. Tudo pode acontecer». É esse inesperado que lhe dá magia. «Há dias em que penso: porque é que estou a fazer isto? Se está a ser um sofrimento, porque é que continuo? Mas depois, repito: vá, só mais uma tentativa. É um dia de cada vez». Um pé à frente do outro, um quilómetro mais. É a vida inteira em 42.195 metros. Um diálogo profundo e emotivo com aquilo que somos. Isabel Silva já percebeu: «A corrida desperta o melhor de mim».


PREPARE OS MÚSCULOS

João Ferreira - Fisiologista do exercício

Um maratonista deve desenvolver um trabalho de reforço muscular dos membros inferiores, bem como da zona do core (zona abdominal e lombar), de forma a evitar lesões e aumentar o desempenho. Este reforço deve ser feito numa vertente de força resistente, ou seja, mais repetições (15 a 20) de duas a três séries para cada grupo muscular. O treino de flexibilidade, velocidade, agilidade e equilíbrio é também preponderante.


António Sousa - Treinador

Como pôr os pés no chão?
A corrida é um gesto básico, que aprendemos na infância e adolescência. Para tentar aproximar esse gesto do padrão predefinido, o treinador tem de actuar nessa fase.

Como respirar?
No treino vamos optimizar a economia de corrida, ou seja, correr mais rápido com um gasto energético menor e potenciar a utilização da gordura como fonte de energia.

Quando  começar?
Para quem tem uma boa base de treino, aconselho o mínimo de 12 semanas. Quem acorda e resolve fazer uma maratona, sem histórico em desportos de resistência, é melhor procurar um treinador.

Outros  desportos?
Não existe nada melhor para optimizar a corrida do que correr. O ciclismo, a natação, aulas de localizada e alongamento complementam o treino. Futebol ou basquetebol, por exemplo, são contraproducentes.

Estou  preparado?
Uma meia-maratona cinco semanas antes e 10km a três semanas da prova ajudam a dar ritmo e a calcular a nossa ambição.
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