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11 fevereiro 2019
Texto de Vera Pimenta Texto de Vera Pimenta Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

«A comida é o meu sítio feliz»

​​​A cozinha, a maternidade e o amor às origens. Com uma boa dose de irreverência.

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​REVISTA SAÚDA: Como surgiu a paixão pela culinária?
FILIPA GOMES: Só comecei a cozinhar aos 24 anos, quando fui viver com o Jorge [Trindade]. Até aí nunca senti essa necessidade, porque venho duma família que cozinha muito bem. Mas a comida sempre foi o meu sítio feliz.
 
A cozinha traz-lhe memórias da infância?
Sim. Os meus avós trabalhavam no campo e cresci rodeada de natureza. Como passava o dia nteiro com eles, sabia o que era ter o leite acabado de tirar da vaca e ir à horta quando queria uma salada. Tive uma infância muito feliz.
 
De Almargem do Bispo para a casa dos portugueses. Como deu o salto?
Durante seis ou sete anos, trabalhei em agências de publicidade e fiz projectos de que me orgulho bastante. Mas não estava feliz e pensava constantemente em mudar de vida. Um dia o meu namorado disse-me que o "24Kitchen" estava a fazer um casting para um novo programa de culinária e desafiou-me a participar. Ele sabia que a cozinha era um escape mas podia ser a minha oportunidade. E eu fui. Chamaram-me para vários castings e, não sei bem como, fui a escolhida.
 
Cumpriu um sonho?
Eu costumo dizer que os sonhos acontecem. A mim aconteceu-me um sonho não sonhado, que agarrei com unhas e dentes. A culinária era um hobby. Eu já cozinhava cupcakes e bolachas de Natal para vender aos amigos. Mas não teria coragem de fazer esta mudança sozinha. Largar um emprego estável, por muito infeliz que se esteja, é difícil. 
 
Tem saudades da vida que tinha?
Estou muito feliz com o meu percurso e não me arrependo de nada. Mas tenho saudades de estar com pessoas. Porque a minha vida agora é mais solitária. Tenho períodos muito intensos de trabalho em produções. Estou dois ou três meses em casa – eu e os tachos – a preparar as receitas, a criar, a testar. Depois são dois meses de produção intensa em estúdio, com uma equipa fantástica.
 

Os pratos da apresentadora são inspirados na cozinha tradicional, mas sempre com um twist
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O programa “Cozinha com Twist” é a sua cara.
O twist é uma coisa que me caracteriza. Gosto de misturar as coisas. E escolhi-o para o nome do programa precisamente porque tem tudo a ver comigo. Por ter crescido na aldeia, tenho raízes muito fortes nas minhas origens. Sou muito ligada ao que é nosso. Mas depois tenho um lado mais irreverente. Isso reflecte-se na comida que faço e também no meu look. Há quem ache que estou a desvirtuar os pratos. Mas há quinhentos anos também não existiam os pastéis de bacalhau (risos).
 
Como escolhe as receitas?
Adoro a nossa gastronomia, mas também gosto muito de comida asiática, italiana e americana. Gosto de inovar, desde que faça sentido e seja ao meu gosto. Muito dificilmente vão ver-me cozinhar com ingredientes de que não gosto. Provavelmente tenho poucas receitas com aipo, por exemplo. Porque é das poucas coisas que não aprecio. E tenho tido a sorte de haver uma correspondência entre o meu gosto e o do público. O que significa que Portugal gosta de coisas diferentes.
 

O feedback do público é positivo?

Muitas pessoas dizem-me que o programa reuniu novamente a família à volta da televisão e que fez com que os filhos começassem a comer certas coisas de que não gostavam. Ou permitiu que descobrissem um talento para a cozinha que não conheciam. Há senhoras super queridas, quase com 90 anos, que vêm ter comigo para me dizer: «Tenho aprendido tanto consigo». Isso para mim é uma bênção! É incrível que uma senhora do alto dos seus 90 anos, que já sabe tudo na vida, me diga a mim, uma garota, que tem aprendido comigo. Sei que falo para pessoas de todas as idades e é este público que me faz querer fazer mais. Porque é bom ter sorte, mas a sorte dá muito trabalho. 
 
«Na cozinha, o truque é não ter medo de falhar»

 

Então as expectativas para o “Famílias Frente a Frente” estão em alta.
Sim. Este é um projecto que me põe lado a lado com pessoas que admiro. É um concurso de famílias, para famílias. E que me diz muito, porque a mesa sempre foi um ponto de união da minha própria família. Vamos dar a conhecer a Portugal tudo o que temos cá dentro. E não temos só cozido à portuguesa – também temos muamba, cachupa e vindalho.
 
No meio de tanta comida, qual é o truque para manter uma dieta equilibrada?
Eu não sei viver numa amarra de comida saudável, porque o meu trabalho não é assim. Eu penso em comida 12 horas por dia. Mas tenho cuidado com a alimentação, porque sou roliça desde que me lembro. Acho que tem muito a ver com quantidades. As pessoas entram em pânico com esse bicho-papão do açúcar, do glúten e da lactose. Mas agora vamos todos comer só abacate e óleo de coco? Não, não. Imaginem deixarmos de fazer o bolinho da avó. A vida não é, nem pode ser, só isso. O equilíbrio é a chave.
 
Lá em casa, quem cozinha?
Eu cozinho praticamente todos os dias. Mas há quem ache que em minha casa é só bife Wellington. Não, malta, eu sou uma pessoa normal. Muitas vezes compro frango assado (risos)! Já estou nesta vida há cinco anos e no início achava que todos os dias a minha cozinha tinha de ser um laboratório de testes. Entretanto nasce uma filha e tu percebes que não és uma supermulher e que a tua vida tem de ser real. Não tens de ser a mãe perfeita, nem a cozinheira perfeita.
 
O que mudou com o nascimento da Julieta?
Um filho é uma espécie de bombinha atómica de amor que te cai em casa. Tudo fica cheio de amor, mas as paredes abanam. E eu levava uma vida de malhão: "Comer e beber, ó terrim-tim-tim, passear na rua" (risos). Não digo que se perca liberdade, mas perde-se espontaneidade. Às 17h30 tens a tua filha a regressar da escola e o mais justo é estares disponível para ela.
 
 
 
E como está a ser a segunda gravidez?
Muito diferente da primeira. Na outra estava completamente deslumbrada, a perceber cada detalhe. Já tinha lido mil coisas, já tinha chegado ao fim da Internet. Desta vez, o receio é a reacção da Julieta. Como vai ser passarmos de três pessoas em casa para quatro. Como vão ser as rotinas e os horários.
 
Ter mais filhos está nos planos?
Ai! Depende se este rapaz vai ser tranquilo (risos).
 
Um conselho para quem quer aventurar-se na cozinha...
Se não tens jeito, não te obrigues. Somos todos bons a jogar futebol? Não. Nem todos podemos ser o Cristiano Ronaldo. O talento para a cozinha não é inato. Se quiserem cozinhar mas acharem que não têm muito jeito, o truque é ir experimentando e não ter medo de falhar. É nas falhas que as coisas acontecem. As minhas receitas são um guia. Se eu uso maçã e as pessoas gostam mesmo é de pêssego, então vão em frente, mudem!
 
 
«Na cozinha, o truque é não ter medo de falhar» 
 

Mousse de chocolate SOS para namorados esquecidos
Ingredientes:
200 ml de natas bem frias (35 por cento de matéria gorda)
200 g de creme de avelã
Preparação:
Bater as natas até virar chantili. Adicionar o chantili ao creme de avelã por três vezes, batendo a cada adição.
E já está!

 
 

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