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29 abril 2017
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Descubra Fátima

Há mais para ver do que o Santuário.
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Ao entrar no Recinto da Oração, em Fátima, a sensação é familiar, de paz. Há intimidade e reconforto enquanto se percorre o espaço – como no regresso a casa de uma mãe. Na extremidade mais alta, a abraçar o Santuário mariano, vê-se a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, imponente no estilo neobarroco, a erguer-se ao céu. Era aqui que os pastorinhos brincavam quando viram o clarão.

Céu, céu e mais céu – vê-se de qualquer ponto – envolve-nos. Este é um daqueles sítios onde o céu é o grande senhor, omnipresente. A nossa guia, a bem-disposta farmacêutica Manuela Quartau, conhece todo este espaço, envolto por colunatas.

Visita-o com frequência em busca do auxílio de Nossa Senhora. «Ainda ontem cá estive», conta ela.

Logo abaixo da Basílica, vê-se a grande azinheira que testemunhou de perto as aparições de Nossa Senhora pela primeira vez, em 1917, ainda a Cova da Iria era apenas paisagem de serra. A seu lado, a Capelinha das Aparições, de onde os peregrinos levaram a azinheira onde surgiu Maria. Muitos fiéis conversam com Nossa Senhora, em oração.

Este ano, comemora-se o centenário das aparições. Espera-se a vinda de mais peregrinos do que o habitual e os hotéis multiplicam-se à volta da Cova da Iria. 

Apesar da promessa de chuva, o Sol abençoa a manhã com os seus raios, mas o imenso céu continua branco. O ar está frio, muito frio. «Sabemos sempre quando está a nevar na Serra da Estrela, porque faz mais frio aqui. É muito perto em linha recta», explica Manuela Silva por entre os ramos.

A sua história está ligada a Fátima. Nasceu numa aldeia próxima e foi para um colégio da cidade que foi enviada, em pequena, para completar a quarta classe, ainda os seus pais estavam emigrados em França. Hoje tem a farmácia em Fátima, na Avenida Beato Nuno. Foi ali que nos recebeu, de sorriso franco, trazendo-nos a este lugar, de que é íntima.

O tocar do sino lembra-nos a solenidade do Santuário. Ao longo do imenso recinto, vê-se fiéis de joelhos. À volta do espaço, as árvores grandes dançam, agitadas pelo vento.



Na outra extremidade, está a redonda Basílica da Santíssima Trindade, mais recente, de linhas simples, com o seu enorme painel do presbitério sobre o altar, moldado em terracota dourada, evocando com o seu brilho devoção e amor.

Saímos do recinto em direcção à Via Sacra, bem perto, em Valinhos. O imenso caminho, com as 15 estações que representam a Paixão de Cristo, pede silêncio e recolhimento. É ladeado por oliveiras e é, antes de tudo, um lugar de contemplação, mistério e de amor pela natureza.

«Foram imigrantes húngaros na Europa que ofereceram as estações, em agradecimento pelo acolhimento durante o comunismo soviético», conta Manuela.

O vento e os pássaros parecem manter um diálogo secreto enquanto caminhamos pelo trilho percorrido há cem anos por Francisco, Jacinta e Lúcia, hoje sepultados na Basílica de Nossa Senhora do Rosário.

Vamos conhecer a vida dos três meninos, outrora perseguidos pelo que diziam. Aljustrel, a poucos quilómetros, era a aldeia onde viviam.

Começamos pela casa de Francisco e Jacinta Marto, simples, de cal e pedra, com tectos baixos. À entrada, há grandes arcas onde antigamente eram guardados os alimentos. Nos quartos vê-se as camas simples onde os irmãos dormiam.

Mais abaixo fica a casa de Lúcia dos Santos. Perto, o caminho que tomavam com os animais, hoje conhecido como Via Sacra. Vai até à Cova da Iria.

«Agora vou mostrar-vos a antiga Igreja de Fátima», anuncia Manuela, enquanto nos despedimos da aldeia. Recorda-nos que a Basílica de Nossa Senhora do Rosário foi construída perto do lugar das aparições, na Cova da Iria. Mas Fátima já tinha uma igreja. Era no centro da freguesia. Perto da entrada do templo, estão estátuas de Jacinta e Francisco. Logo à entrada, anuncia-se a pia onde foram baptizados os pastorinhos.

E temos uma revelação, vinda do marido de Manuela, Josué Quartau, que acompanha a visita. «A minha avó, Maria Henriqueta, lembrava-se do milagre do Sol. Ninguém acreditava nos pastorinhos. Nossa Senhora disse a Lúcia que haveria uma manifestação. No dia 13 de Outubro, o Sol deixou de cegar e era possível olhá-lo. E girava, girava sobre si, como uma bola de fogo».



Hoje, multidões acreditam. E caminham, todos os anos, dezenas ou centenas de quilómetros para ir ao lugar sagrado. Até chegarem aos pés de Maria do Rosário, a quem chamam de mãe.

No dia seguinte, vamos mais atrás no tempo. A poucos quilómetros de Fátima, fica um dos mais belos lugares de Portugal. Erguido sobre um monte, vemos o castelo de Ourém.

De construção muçulmana, é daqui a lenda da bela Fátima que, tomada de amores por um guerreiro cristão, foi baptizada com o nome de Oureana. Era tão bela e amada pelo povo que mudaram o nome da vila para Ourém. Também ela está ligada a Fátima: nas suas terras ter-se-á refugiado durante a Reconquista Cristã.

Mais longe no tempo está o Período Jurássico, que vislumbramos através das pegadas deixadas por alguns dos maiores seres que já habitaram o planeta. O Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios fica na Pedreira do Galinha. A vista, sobre a Serra de Aire e Candeeiros, é de cortar a respiração. Divina.

 

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